terça-feira, 17 de novembro de 2015

Um Rio de Inquietações


Quando um rio morre, morre também a Terra e nós também morremos. Morre toda uma poesia que a incessante correnteza alimentava. O rio e o seu Som. Os pássaros que cantam à sua beira para refrescar-se. As árvores que balançam em suas margens.
Falar da morte de um rio é falar do Fim. Um fim silencioso. Um fim aparentemente sem nexo, pela nossa falta de bom senso e excesso de ganância e estupidez. E a única coisa que me resta é pensar: um dia evoluiremos?
Pensar na morte de um Rio é pensar numa das coisas mais fundamentais para a nossa existência no mundo: a água. Nossa maior riqueza. E que por conta da ignorância dos nossos gestores públicos, AINDA jogamos nossa merda no Rio!
É um dos maiores atrasos do mundo: jogar nossa merda no Rio. E assim o fazemos, por conta da má gestão pública das cidades.
E se um dia tivéssemos outro olhar em relação à nossa riqueza água? Certamente existem boas maneiras de se tratar água sem ter de poluir um Rio. E o Tietê e tantos outros agradeceriam aliviados.
Se pudéssemos aprender a valorizar a água tanto quanto valorizamos o minério, certamente aprenderíamos a fazer Poesia ao ver um Rio limpo, com seus sons e tons. Não há coisa no mundo que seja mais poética do que um Rio. E absolutamente nada mais triste do que a sua morte.
É como uma veia entupida em nossas veias. Até paralisar de bombardear o sangue pelas artérias e o coração parar. O coração é a nossa Poesia.
Como pode um rio estar imerso em tanta sujeira como a política imunda, tão imunda quanto essa lama que escorre? Como podemos ter permitido isso? Como podemos dar as nossas descargas todo santo dia achando que dali os dejetos simplesmente desaparecem?? Como podemos passar ao lado de um Rio poluído com o som do alto falante do carro no mais alto volume e o ar condicionado que não nos faz sentir o fedor?
Pensar no Rio é pensar sobre a nossa existência Real!Estamos assim tão desconectados???

Aproveitemos do nosso mundo tecnológico com sua vasta gama de laptops, celulares com multi funções, i phad, i phones, etc e tal, oferecidos graças à exploração dessas mineradoras em primeiríssimo lugar, para expor nossa opinião, seja ela qual for. Eu falo poéticamente, pois assim é meu coração: um Rio que pulsa inquietações.  

domingo, 22 de março de 2015

Aldeia Kariri Xocó, nossa Família!!!


Tivemos o privilégio de conhecer nessa virada de ano pessoas incríveis da Aldeia Kariri Xocó, situada na cidade de Porto Real do Colégio, no Estado de Alagoas.
Não há muitas palavras para descrever o que há de tão único e mágico. Mas tentarei aqui esboçar um pouco do que ali vivenciamos com esse povo que logo se tornou familiar para nós.
Pode parecer estranho, mas mesmo que reconheçamos o valor da comunidade indígena na formação do povo brasileiro, temos que admitir que pouco conhecemos realmente dessas culturas. Suas línguas, suas crenças, danças, sua educação, seus rituais, etc.
Lá nos deparamos com uma tribo com rica cultura ancestral, e que preservam seus conhecimentos até hoje. Existe uma sabedoria latente que ultrapassa a compreensão do homem branco. São pessoas de extrema sinceridade. Sinceridade entre eles, conosco (homens brancos), com a natureza e com o espírito.
Sinceridade e coerência fazem desse povo ancestral um grupo muito forte. Força que pode nos servir de exemplo em tudo na vida. Sem deixar de pontuar a beleza de seus rituais, das suas músicas, as Torés (cantos e danças sagrados) e os rojões (cantos de trabalho). As canções foram o que me atraíram até eles.
Quando estávamos lá na aldeia, ficamos sabendo que eles estavam lutando pela legitimação da posse de suas terras. E agora que estamos do lado de cá, soubemos que passam por situações difíceis, pois encontram-se acampados nas terras que revindicam, porém, sofrendo inúmeros ataques e ameaças de posseiros.
A história do povo indígena no Brasil tem sido lamentável, pois infelizmente, só conseguem ter acesso às suas terras depois de derramamento de sangue indígena.
E justamente por se tratar de uma cultura ancestral forte no Nordeste, gostaria muito de pedir a todos os amigos que divulguem essa situação que eles estão vivenciando nesse momento. Precisam de apoio, seja financeiro, pois precisam de alimentos no acampamento em que se encontram, seja de apoio para divulgar o que lá ocorre.
Agradeço a todos que puderem de alguma forma contribuir!
Que isso sirva a todos que de alguma forma se sensibilizam com esse acontecimento. E que de alguma forma acredita que o povo brasileiro ainda deve muito à comunidade indígena e sabe que a luta deles é também a nossa luta!

Contato para contribuir:
Ieda Terra
Telefone:(12) 99649 8054
Cacique Pawanã
Telefone: (82) 9693 9209



 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

As Mãos

Minhas mãos que eu nunca vira,
quando apareceram-lhes as unhas
deformadas de tanto serem roídas
e corroídas pela vida,
já estavam velhas e calejadas...
Como o é o corpo,
como o é a vida física.
Tinha rugas, linhas que
nem sequer tinham sido 
escritas e lidas
no plano da percepção.
E tudo isso, quando vi a mão...
Vi a minha alma.
Sem quiropraxia, nem magia,
mas na leitura da carne,
sob a luz do dia.
As mãos que tanta sensação 
já tiveram.
Ah mãos que tentam segurar o tempo,
querendo prensá-lo,
comprimi-lo no instante,
para que seja eternamente liso,
pra que seja eternamente vivo,
feito grilhões para o fugidio
tempo da carne.

domingo, 29 de setembro de 2013

Ser Crístico

Olho nos teus olhos,
entendo a tua angústia...
Ó olhos dos suplicantes!
Uns suplicam alimento,
outros, a Justiça,
outros, de tanta ignorância
sequer suplicam coisa alguma.
Mas, na alma de todos nós
jaz a angústia de um Ser,
viajante no tempo que passa,
e no tempo que inexiste.
E assim, o ciclo se complementa
em movimento espiralado.
Ser Crístico é olhar nos olhos,
é compreensão à todo custo,
mesmo na angustia mais amarga do coração.
Porque Cristo só pode nascer no coração das pessoas.
É  o que une o Ser consigo e com o Outro,
que esta para além do tempo,
que se transforma em flor, em borboleta
mesmo passado por semente e casulo.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Úmido Silêncio: assim o digo...

Se houvessem explicações, se houvessem flores maternais, serenas com gotículas de manhã, meu dia seria lindo.
Não fossem os sorrisinhos infantis pós aula de yoga, o dia estaria perdido no desabrochar do sol. Saiu tarde, quase esfumaçado pela névoa da chuva ainda úmida. Um dia, úmidos serão meus pensamentos, que hoje refletem jogos inertes, adormecidos por um sonho de uma noite mal dormida.
Sonhei que haveria tempos melhores. Sonhei que já sonhara antes e não tinha acontecido, mesmo que no sonho perdurasse a imagem da casa fosca, cinza, úmida. Por fora era uma reza sagrada, por dentro a casa da solidão, a realidade dos rodapés cheios de poeira.
Pensamentos poéticos quase dormentes, senão completamente entregues a essência da mãe divina. Sorri. Hoje o dia deu-me presentes nos sorrisos dos outros. Não era apenas o teatro que engole o cotidiano, mas o riso sem estratégia que se faz presente quando se ganha um presente sem saber o porquê.
Os erros do passado ficaram distantes, emoldurados num quadro já sem cor, sem vida. Mesmo que em sonhos estejam amedontrosamente cientes de si e do mundo que conspira ao seu caminho oposto.
Geléia de sal, dias em que o afeto esta no esqueleto das horas soníferas. Quase vulgar, porém sacro, áspero, porém rústico e contido. Balbucio palavras quase sem tomar conta do que digo. E se faz o sentido apenas pelo ritmo perdido das teclas, pela nuvem colérica que se foi embora e me deixou na solidão quase confortável do silêncio.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Expansão da Linha do Tempo

Tenho pensado na vida antes da nossa existência. Existíamos?
Parece-me ao menos mais leve esse “não existir” antes da vida do que depois da morte. Deve ser o peso da palavra “morte”. Embora há quem diga que já houvesse vida, mesmo sem ser concebida.
Isso, esse pensamento, estendeu minha concepção de mundo. É como a linha do tempo que se divide em antes e depois de Cristo. Antes desse pensamento, parecia que só me havia o zero e tudo que vem depois dele.
Pareceu-me que os mistérios ficaram mais ricos e refinados com essa idéia. Para aquém e para alem do próprio mistério. Expandiu-se.

O mínimo

Sempre durmo após as 24h, dormir é o que tem me dado conforto ultimamente. Mente cansada, vazia. Corpo desnudo, inconsciente de sua potencia. Queria tua palavra amiga, queria um olhar vadio, sincero, que atinge a existência, e lhe dá um susto.
Tudo esta calmo, mas de minha mente vaza, como um copo que transborda reticências... Sentamo-nos a mesa em silencio, tomamos café, e para nosso espanto nada faltava, mas havia um “mas”, um aquém, “mais”.
Dormir não era tarefa árdua, precisa, inesgotável fonte de mistério e vida. Uma taça de vinho para amortecer lábios, coluna, cabelos. Encontro-me sem palavras diante da vida. Embora queira defender horizontes, vejo que o mundo esgana aqueles que pensam demais. E eu penso demais, deveria ser um pouco menos. Assim não sofreria tanto.
Mas o que é o sofrer senão a passagem para um momento de lucidez? Não diria um momento que nos traz paz e felicidade, mas sim consciência. Até a felicidade é posta em questão.
Proponho aos meus alunos que pensem sobre a felicidade. Pensam em jogar futebol, em conviver com pessoas que amam, mas isso nos será suficiente? Penso que não... Não me contento com pouco. Não me desfaço na falsidade de frases prontas, não caio nas vírgulas que não nos fazem pensar.
Penso no mar, no motivo de estar aqui, e pouco desfrutar dessas delicias. Penso o quão sou privilegiada, mas enfim nada. Quero dar o mínimo ao mundo, mas que mínimo se quantifica? O que é pouco e muito em linguagem extra pessoal?
Incontinência. Por isso sonho, e lá me encontro , encontro o outro, e acordo novamente para mais um dia de fadiga. Desvontade.
Não compreendo o mundo, ele também não me entende. Embora me mostre simples. Não consigo caminhar sozinha.
Por isso quero ante a tudo que indica, escrever poemas, pensamentos às pessoas queridas, significativas, para passar o tempo, homenageá-las através de meus olhos turvos, agradecê-las. Eis o mínimo.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Teorias sobre o Silêncio

As palavras me fogem,
Dormem despreocupadas no sofá
Tendo o verão nos dentes
A máquina paralisada
Pelo descanso com hora marcada.
E as palavras correm
Dentro um sonho profundo
Brincam de pétalas,
Empinar pipa,
Pega-pega, esconde-esconde.
Brincam de esconder-se de mim
E eu fiquei muda desde então...
Quando em muito,
Podia dizer o que todos já dizem;
Sem muita reflexão.
Acho que quem anda ainda mais distante é a filosofia.
Arredia feito um cavalo indomado.
Mas o que seria da filosofia sem as palavras?
E o que são nossas palavras ditas sem peso?
Sem métrica, sem direção, sem contorno de si?
O silencio será mesmo o dono de tudo?
A música sem som,
Vento soprando em outras galáxias.
Respiração divina.
O Indizível...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Lágrimas Artificiais

Por entre nuvens longínquas,
O azul do céu interpõe-se anil
Quebra o silencio quase imbecil
Do meu olhar delirante,
Musica clássica revigorante
Estranhamente uma tarde me consome...
As roupas no varal;
Cheiros matriarcais.
A primavera dá seus primeiros passos
Rumo à minha incompreensão
Desse mundo gigante,
Desse Ser inconstante,
Que por hora chora
Sem compreender sentido algum
Sem trafegar em qualquer lugar
A lastimar pelo horizonte
A olhar pelos cantos vazios da alma
Sem achar, a estar, sem Ser.
A usar palavras repetidas
A cansar de ser humano
A reunir brechas para escapar
De mim mesma,
Para fugir no sonho fantástico
Pelo buraco do Sonoro devir,
Ate sentir essas pálpebras,
Palpar a polpa dos meus olhos
Sedentos de seiva,
A transbordar lágrimas artificiais.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Série: Lixeira Cósmica

Tenho guardado as dores.
Ficam seladas em cartas que ninguém lê,
Acho que nem foram escritas por ninguém.
A solidão, os desejos contidos, os sonhos não verbalizados,
As frustrações, a família, a desordem da vida.
Tenho guardado em caixinhas pequenas
Cada instante lastimável
E precisando de um Freud ou Jung
Ou melhor; uma Pandora,
E botar todas essas andanças pra fora
Todo o mal do universo
Em todos os versos.
O grande problema seria
Que mesmo colocando-as pra fora
Estariam mais dispersas do que nunca
Dominariam o mundo
E deixariam o mundo triste também
Ah como é danoso querer ser altruísta!
Assim como é egoísta aquele que sofre sozinho!