segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Encontros (para Rafa F.)

Encontros, nada mais,
Regem-nos caminhos até desiguais
Para chegar além-mar
Para chegar a contemplar
Teu olhar...
Compreensão do absoluto
Redenção
Som que entra pela casa
Espalha dom,
Voracidade sutil
As notas, as cordas,
Os olhos, as mãos.
O toque leve,
O beijo, o riso.
Esteve aqui sempre
E eu não compreendia
Esses caminhos solitários
Vejo claramente
Onde iriam dar:
No teu olhar
Encontros totais,
Nada mais
É o que me basta.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sopro de vida: (à Clarice L.)

Não quero pensar o pior,
mas minha mente entrevê por entrelinhas
Lê pensamentos em desordens oníricas
Insistentemente expulso esses maléficos “haveres”
Hão de retornar à lua
Hão de me tirar o sono por um tempo
Hão de me fazer chorar um dia
Lembro o que o tempo ainda não disse
Lembro da bagunça que é o meu ser:
Aquilo que era único
Anuncia-se como um “apenas isso”
E o que era “meramente”
Causa devastação
Estou num dilema inquietante
Entre viver e recordar a vida
Entre o sim ao instante
E o não causado pelo passado
E pelo absurdo do futuro
Quero apenas cantar
Apenas rir e chorar,
Nada nadar
Vulnerável tal qual sou
Adianto os passos para não perder o trem
Dentro de mim não manda ninguém
Nem lei, nem “mé”, nem ele, nem eu
Por acaso, vim a estar
Estando a procurar incessantemente
Palavras que preencham essa questão...
O niilismo não responde
A totalidade menos,
as palavras, as coisas, pessoas
Gratidão, ícones, deuses, copos d’agua, sede,
Desertos são os canais que fluem
Para expulsar esse ser contido
Pelas células dizem ola!
Pelos poros e canais avançam os sinais
Atropela-me a vida
Começo a respirar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

VER SEM OLHAR:

Um friozinho na barriga me consome
A densidade do instante causa rebuliço,
Borboleteando o estômago
Vimos partículas cintilantes a beira mar
Caiam serenas, tranqüilas.
Como que sem saber de nossa angústia
Como que sem pesar em nada
Caiam suaves, sob a luz que preconizava a chuva.
Como pequenos seres que sumiam diante da vista
Estrabismo é que era bom
Pra enxergar a dança dos átomos.
Era bom olhar sem reter a retina em nenhum lugar
Sem fadiga, sem mira.
Consolam-se as partículas apenas ao esvoaçar
Assim também é o que sinto
Assim também é o que somos
Ou ao menos deveríamos ser,
Se não olhássemos tanto a nossa volta
Com olhos de quem quer reter o momento
De quem quer parar o tempo
De quem quer tocar o que não tem tamanho
De quem quer ver sem olhar.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Erros de Eros


O amor é a maior morte vivida em vida.
Sombra que jazz na carne e na alma
Gruda nas veias, entope canais.
Presente no suor,
Tal como no alivio
Um suspiro alucinado
Estar fechado na jaula
Com as chaves do lado de dentro.
Clama por socorro!
Um foco especifico
Da lente universal
Movimento de água e sal
Manhã noturna sem inicio e sem fim
Esta em todos, esta em mim.
Mesmo a quem não ame
Mesmo a quem não chame por Eros.
Concebido no nascimento de Afrodite
Ele insiste em tocar-nos as pálpebras
Flechar os corações
Tirar-nos o sossego
Mesmo a quem sofra
Mesmo a quem tem o “não” contido na boca
O abstrato te envolve feito papel de maçã
Teus galhos engolem a árvore da vida
Sugando a seiva
Sem tirar nem por nada em troca
Por ti amor,
Clamam os poetas, os sofredores, os felizes, os que choram, os que nascem e morrem, os seres divinos, ninguém lhe escapa a sorte.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Retratos em dias ensolarados:

Vi retratos e imagens de um cotidiano praiano.
Crianças com chuquinhas no cabelo
A delicia de um milk shake de chocolate aos olhos da adolescente
As cores pulsantes da bicicleta e da roupa da senhora
O sol entre as nuvens parcas
A cidade agitada pelo feriado
O trabalho de uma sexta,
Engavetado no precipício do fim de semana
Todos pedalam para a morte no fim
E todos vivem costumeiramente tecendo
Essa condução não verbalizada
De imagens múltiplas, facetadas, enraizadas
No povoado daqui
Quando não há chuva, reina alegria
E todos preservam esse semblante
Não é comum alguém reclamar da vida
E mãos a luta!
A lua ajuda aqueles que sentem a maresia entrar
Pelos vãos do alumínio dos aros
Disparos dispares harmonizam-se em festa
Reino lunar, entrego minhas armas ao mar!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Da filosofia indiana, Platão e Gurdjieff:

“Quem é o Homem?”
                                                                    
Na necessidade de se compreender a essência do homem, e assim descobrir onde esta a sua potencialidade. Alguns pensadores extraíram esquemas para que possamos traçar esse caminho.
Podemos partir do pensamento de pensadores indianos, que originariamente seriam os precursores dessas teorias acerca do homem, e em seguida trazer os conceitos desenvolvidos por Sócrates e Platão na Grécia antiga e por fim chegar aos esquemas de Gudjieff, sábio pensador russo contemporâneo.


Nas filosofias indianas Samkhya (+/- 5000a.c) e Vedanta (+/-VIId.c) o ser humano esta constituído por três corpos: Físico, Sutil e corpo Causal.
  • Corpo físico: formado por carne, osso, tecidos, células, moléculas e átomos; camada feita de alimento. (vigília)
  • Corpo Sutil: formado por energia, pensamento, prana (energia vital), permitem o homem refletir, interpretar, conhecer.(sono com sonho)
  • Corpo Causal: é o que da sentido aos demais corpos. É o receptáculo da alma individual (atman) (sono sem sonho), corpo da bem aventurança.

Esses copos são chamados de Koshas, ou seja, envoltórios, ou camadas, inerentes a todos os seres humanos. Do corpo físico ao corpo causal à uma barreira transponivel apenas pelo grau de conhecimento do sutil, por isso, o estudo desses corpos chama-se Anatomia Sutil. E através deles podemos ter uma enorme abrangência de estudos correlativos, tal como o estudo desenvolvido nos Vedas sobre a medicina (Ayurveda) e sobre os princípios morais e éticos para se alcançar a essência do ser humano.


As origens do universo segundo os Vedas:

É muito interessante notar que, segundo essas correntes filosóficas (Samkhya e Vedanta), há uma forte crença de que o mundo teria se originado a partir de um som primitivo: o OHM. Esse som foi feito a partir de uma manifestação do que os indianos chamam de Purusha, ou seja, do eterno e imutável (o observador eternamente presente em tudo).
Esse som afeta Purusha causando-lhe instabilidades, que por sua vez, originaram a Prakrti (mutabilidade, aquilo que é visto, a mãe natureza do cosmos).
A Prakrti entra em desequilíbrio, manifestando seus Gunas (atributos da natureza).

Os Gunas são:
  • Sattwa: equilíbrio, virtude, bondade, harmonia, estabilidade, contentamento.
  • Rajas: energia, agitação, atividade, busca de uma meta ou fim que lhe dá poder.
  • Tamas: inércia, escuridão, força da gravidade, ignorância e ilusão.


Platão (427- 348 a.c):

A cidade ideal de Platão foi desenvolvida em seu livro “A Republica”, onde o filósofo expõe não apenas o conceito de cidade justa e perfeita, mas um esquema complexo sobre o funcionamento do ser humano como um todo.
Se houver uma cidade justa e perfeita, ela deve ser constituída por indivíduos também justos e equilibrados dizia Platão.  É interessante ressaltar que na época de Platão, a Cidade-Estado de Atenas era o berço da democracia, que embora teoricamente deveria  ser governada pelo povo, era muito mais conduzida pela centralização do poder nas mãos dos poucos considerados cidadãos e principalmente os sofistas que detinham o poder da palavra através do uso da retórica. Donde havia inúmeros casos de injustiça e desigualdade social, tal como foi o caso de acusação de Sócrates.
Para compreensão do homem, Platão faz referencias indiretamente à filosofia Indiana (não sabemos ao certo se o autor teve ou não contato direto com esses povos), pois vai afirmar que o ser humano possui três almas:
·       Alma concupiscente: relacionada aos processos mecânicos do homem, tais como alimentar-se, dormir, reproduzir.
·        Alma irascível: relacionada aos afetos do homem, tal como seus gostos e aversões, seus ímpetos de ira, a vontade, os desejos.
·        Alma racional: a razão do homem, o equilíbrio, a ponderação.

Segundo Platão o homem possui as três almas, porem em alguns homens manifestam-se mais umas ao invés de outras. Ou seja, na maioria das pessoas há a sobreposição de uma alma sobra a outra (principalmente das almas concupiscente e irascível sobre a racional). O que seria a causa principal dos desequilíbrios humanos, das suas enfermidades.
É preciso, segundo Platão, que a alma racional prevaleça sobre as demais, para que não sejamos sempre escravos dos nossos instintos e desejos. Tal como sua cidade ideal deveria ser governada pelo rei – filósofo, guardada pelos guerreiros, e talhada pelas mãos de bons artesãos, cada um ocupando seus devidos cargos de acordo com suas aptidões e virtudes. Não havendo espaço para discórdia e desequilíbrio.


Gurdjieff (1866 a 1949):

Segundo esse sábio pensador russo, que dedicou sua vida a uma busca espiritual através da leitura de textos sagrados das diversas civilizações antigas, o ser humano é constituído por três mentes, ou centros:

·        Centro instintivo: controla as funções fisiológicas, tal como a digestão e respiração, a sexualidade. (abdome)
·        Centro emocional: relacionada aos nossos sentimentos. (plexo solar)
·        Centro intelectual: ocupa-se na construção de teorias e da comparação de uma coisa com outra. (cabeça)

Assim, para Gurdjieff existem basicamente três funções no ser humano: pensar, sentir e mover-se.
“(...) um homem devidamente equilibrado, trabalhando como deveria trabalhar, assemelhava-se a uma orquestra bem ensaiada, na qual um tipo de instrumento assumia a predominância num dado momento, outro tipo em outro, cada um deles contribuindo para que a sinfonia fosse executada (...)”. (trecho extraído do livro “Os Ensinamentos de Gurdjieff” de Kenneth Walker)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Sobre o nosso "sono"

Dormimos ao acordar. Ao comer, dormimos. Não percebemos o quanto nosso corpo se domesticou ao mundo moderno e industrializado, com seus metais pesados e farinhas enriquecidas de acido fólico, shampoos e sabonetes com espuma de Lauryl.
Dormimos por não questionar e não experimentar o diferente. Dormimos por achar que tudo no mundo esta pronto e acabado, e que a ciência ja encontrou todas as respostas às nossas angustias e necessidades.
Invariavelmente dormimos diante daquilo que nos é mais visivel, e que se mostra como causa principal das nossas piores enfermidades. Adoecemos ao dormir.
E ainda buscamos, feito crianças a procura de açucar, a cura, o metodo, o antidoto à essa lacuna deixada pela ciência. E isso, é claro, sem observar atentamente nosso próprio corpo, essa maquina perfeita. Ainda não despertamos para essa novidade eternamente presente.
Não observamos nosso ser silencioso, muito pelo contrario: tagarelamos ideias confusas e desnecessarias, dispersamos energias vitais, entregamos nossa essência à voracidade da digestão do açucar, dos carboidratos industriais e agrotóxicos.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Banda Barro



Visitem o nosso espaço de musicas:   www.myspace.com/bandabarro 

AGORA COM MUSICAS NOVAS!!! DIRETAMENTE DO ULTIMO ENSAIO!!!

Ieda Terra e Banda Barro

Pré- projeto para a gravação do disco da Banda Barro.

Não esqueçam de deixar comentarios, opinar, dar sugestões...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Instante: Calmaria...

De volta ao Cais:


Diamantes no oceano

Sob a superfície do profundo

Eram deuses as montanhas

Gritando estrondosos cânticos?

Era o Olimpo a Terra?

O instante era agora

Passou escorregadio

Pelas minhas mãos ressecadas

O céu: a fortuna de quem não tem nada

A água límpida,

A linha horizontal acalma a alma

O silencio das ondas sem som

Entro em harmonia com o cosmos

De volta ao mesmo cais

Num novo instante,

Da chuva aos diamantes!

O cais não é mais

Do que um novo cais

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sessão Lampejos e Relâmpagos:

Vinte minutos, um cigarro

Uma estação, a vida inteira passa ao meu lado
O corpo fala, a mente engana
A gana, a pompa de ganhar mais grana
Reveste a carcaça do que não sou
Mas estou confusa
Aflita em mil rumos inconcebíveis
Afloram vontades com pétalas negras
Enigmáticas, plantadas na terra
Bela terra! Soam tambores da eternidade
Montes de mim dizem “sou”
Planos em círculos, dialética do obscuro
Obvio mistério me engole
Nesse sono profundo
Estrondo, estrada, viaduto, colisão
O ser que beira a vida quer morrer pra essa prisão
Pular do asfalto, nos trilhos do trem
Entrar num vagão não mais convém

E no estalo da gota da pétala da flor na relva
Surge o instante
Distante dos grilhões do tempo

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

EDUCADORES: LEIAM ESSE DISCURSO PROFERIDO POR CRISTOVAM BUARQUE SOBRE NOSSA EDUCAÇÃO ATUAL!!! VALE MUITO A PENA!!

Fonte: Jornal do Senado de terça-feira, 2 de junho.

Leia, abaixo, a íntegra do discurso do senador Cristovam Buarque de segunda-feira, 1º de junho.

Sr. Presidente,
Srs. Senadores,

Vou falar um pouco na linha do que falou para nós, no começo desta tarde, o Senador Paulo Paim, apenas tentando responder por que e o que fazer.
O Senador Paulo Paim chamou a atenção aqui, de maneira muito correta, eu diria mesmo de maneira brilhante, para aquilo que tem saído nos jornais e nas revistas, especialmente na IstoÉ desta semana, sob o título de “Profissão de Risco”.
Quem apenas lê essa manchete, Senador Eurípedes, pensa que profissão de risco deve ser a dos PMs nas ruas, nos morros do Rio de Janeiro; ou deve pensar que é a profissão dos astronautas lá no espaço; ou, quem sabe, a profissão dos trapezistas, dos domadores de animais bravios.
Não, profissão de risco é a profissão de professor no Brasil. Esta é a matéria de duas páginas na revista IstoÉ, que começa com a frase de uma professora, dizendo: “Vou mais um dia para a escola, desanimada e certa de que as aulas não serão dadas. Quando chego à porta da sala tenho vontade de sumir”.
A professora do ensino fundamental, a mineira Áurea Damasceno, escreveu essa carta endereçada à Secretaria de Educação de Belo Horizonte. A professora Áurea é uma dos quase dois milhões de professoras e professores que hoje, no Brasil, quando acordam para ir dar aulas, sentem que vão a uma profissão de alto risco, com a sensação que elas têm de que representam 67,6% dos educadores que dizem que suas autoridades ficaram mais fracas nos últimos anos.Vejam bem, 67% sentem que sua autoridade ficou mais fraca nos últimos anos.

Sr. Presidente, acho que vale a pena a gente perguntar o porquê dessa degradação, Senador João Pedro. Eu resumo isso com uma frase: a escola descolou e, ao descolar, caiu na tragédia. Vou listar alguns dos descolamentos entre o passado e o presente.

O primeiro descolamento – não por ordem de importância – é o salarial. Todos falam que professor ganha pouco, mas há algo muito mais grave: os outros passaram a ganhar muito mais que eles. Houve um descolamento, Senador Mão Santa, entre a política salarial do magistério e a política salarial das outras categorias deste País, tanto no setor privado quanto no setor público. Dizem que professor ganhava mais antes. Talvez nem seja tanta verdade do ponto de vista do valor real do salário, mas é absolutamente verdade do ponto de vista do valor relativo do salário do professor e do salário das outras categorias. Comecemos aqui, com a categoria parlamentar, comecemos conosco, Senadores. Olhem, não tenho os números comigo, mas o número de vezes que o salário do Senador de 50 anos atrás era maior que o salário de professor não era igual ao de hoje – e desafio os pesquisadores a verem isso, já que não tive tempo de ver, porque decidi falar nesse assunto, quando ouvi o Senador Paim.

Houve um descolamento. Não se trata apenas dos Parlamentares: todas as categorias, praticamente, aumentaram seus salários numa velocidade maior que os professores. O mais grave, Senador Pedro Simon, não é que os professores hoje ganham menos que antes, mas que os outros hoje ganham muitas vezes mais que os professores. E o que vale na vida social é o salário relativo, não é o salário absoluto apenas. Esse descolamento entre o salário do professor em relação ao salário dos juizes, ao salário dos parlamentares, ao salário dos funcionários públicos em geral é uma das causas dessa crise que atravessa a educação brasileira. Mas pode-se dizer: essa não é a causa da violência nas escolas. É que houve, Senador Pedro Simon, um descolamento total nos equipamentos das escolas em relação aos outros setores da vida de hoje.

Nesses últimos 50 anos, as crianças deste País mudaram completamente. Hoje, as crianças nascem e crescem, vendo uma coisa chamada efeito especial e assistindo à aula num quadro-negro com giz. Não é possível ter uma sala de aula disciplinada com quadro-negro e giz para crianças acostumadas ao efeito especial. Elas assistem, todas as noites ou quando vão ao cinema ou pelo videocassete, ao sistema solar em movimento e em cores e, quando chegam à sala de aula, o professor faz um pontinho de giz e diz: “Isto aqui é o sol”; faz outro pontinho e diz: “Isto aqui é a Terra”; faz outro pontinho de giz e diz: “Isto aqui é a lua”; aí faz algumas voltas e diz: “Isto aqui são as órbitas da lua e da Terra”. Há aluno que aguente uma coisa dessa?

Houve um descolamento do ponto de vista do equipamento das escolas. Comparem como eram os bancos há 30 anos e as escolas; comparem como são hoje os bancos e as escolas, e vocês vão ver o descolamento que houve. O avanço técnico chegou a todos os setores, mas não chegou às escolas. Elas ficaram descoladas da realidade, do avanço técnico que hoje domina a sociedade, que nos embeleza, que nos fascina e que não fascina nas escolas.

Se alguém fosse dormir há 30 anos e acordasse hoje, não reconheceria um banco; não reconheceria um shopping; não reconheceria uma casa lotérica, mas reconheceria uma escola. A escola descolou do avanço técnico. A escola descolou também da qualificação. O professor descolou da qualificação.
Trinta anos atrás, o profissional mais qualificado de uma pequena cidade era o professor. As outras profissões avançaram, qualificando-se, e deixaram os professores para trás. Obviamente, isso está relacionado ao descolamento dos salários.
Em cada cidade, hoje, há funcionários do Banco do Brasil muito preparados, há funcionários da Receita muito preparados, há médicos muito preparados, mas não há mais professores preparados, relativamente, como eram antes, quando se comparava com as outras profissões.

As demais profissões foram mudando na qualificação. O professor não se foi qualificando na mesma proporção. Isso tem a ver com os equipamentos que eles nem usam e tem a ver com os salários que eles recebem. Aliás, esqueci-me de dizer que o plenário do Senado de hoje não tem nada a ver com o de 30 anos atrás. Senador Simon, que está aqui há mais tempo, tinha-se microcomputador na mesa, há trinta anos? Não se tinha. Hoje, continua sem se ter nas escolas, mas os Senadores têm. Não se tinha televisão ao vivo, transmitindo os nossos discursos, há trinta anos, mas hoje se tem. As escolas continuam sem ter televisão e computador. Houve um descolamento das escolas em relação ao salário, à qualificação, aos equipamentos.

Hoje, um jornalista tem de ter diploma, teve de se qualificar. Hoje, cada profissão está qualificada: tem-se de fazer curso universitário, tem-se de ter diploma. O professor, por incrível que pareça, continua sem a exigência do diploma. Nós descolamos o processo de qualificação e a formação dos professores. Mas descolamos outra coisa também, descolamos a qualidade dos prédios. Não havia os palácios da Justiça que existem hoje. Antigamente, não existiam os palácios maravilhosos, suntuosos, dos Ministérios Públicos espalhados por este País. Hoje, todas as entidades têm os seus palácios, mas as escolas continuam da mesma maneira e até com pior qualidade do que há 30 ou 40 anos. Houve um descolamento na qualidade do prédio da escola com o presente que é oferecido às outras entidades do setor público. E a gente ainda acha estranho que nas escolas os alunos se comportam mal; que às escolas os professores vão, como se fossem para o sacrifício.

Nós temos todo o direito e a obrigação de nos indignarmos, mas não de nos surpreendermos. Basta observar um pouquinho como o avanço técnico, como as vantagens econômicas foram chegando a cada setor da economia, a cada setor da sociedade e deixando a escola descolada, para trás, abandonada.

Nós não temos o direito de estranharmos a carta da professora. Nós temos a obrigação de nos indignarmos que uma professora não acorde hoje e diga: “Hoje é dia de aula. Felizmente vou estar com os meus meninos e meninas, ensinando-lhes como construir o Brasil”.
Nós temos o direito de nos indignarmos, porque isso não acontece hoje. As professoras e os professores acordam e ficam tristes, porque vão dar aula. Temos o direito e a obrigação de nos indignarmos, mas não de nos surpreendermos, porque essa é a realidade de uma entidade que descolou em relação ao que avançava – descolou nos salários; descolou nos equipamentos; descolou nos prédios; descolou na qualificação; e, em conseqüência disso tudo, descolou também no prestígio.

Todos lembram que, antigamente, até ser casado com professora já dava status numa cidade. Hoje a gente sabe que o professor não é tratado com o prestígio que deveria. Mas não é só porque tem menos prestígio, mas porque nós passamos a reconhecer mais prestígio nas outras categorias sociais. Nós passamos a dar muito mais prestígio a novas profissões que foram surgindo ao longo do tempo, aos artistas que foram surgindo no tempo, aos futebolistas que foram surgindo.

Nós fomos dando muito mais prestígio aos universitários que não existiam antes, que passaram a existir em grande número, o que é uma vantagem para o Brasil. Mas só seria de vantagem plena se nós déssemos prestígio também aos professores. Nós descolamos o conceito de prestígio do conceito de magistério. E essa talvez seja a maior tragédia da sociedade brasileira. Essa talvez seja a maior ameaça ao futuro do Brasil, o desprestígio descolado da entidade escola: da entidade escola no que se refere ao magistério, da entidade escola no que se refere aos servidores administrativos. Descolado na escola no que se refere à qualidade do prédio, descolado no que se refere ao equipamento, descolado, inclusive, na quantidade de tempo que uma criança fica na escola, porque, antigamente, ficava, pelo menos, das oito às doze. Hoje, deveria ficar das oito às seis da tarde, mas fica das oito às dez, porque, terminada a merenda, a maior parte da população pobre de alunos nas escolas públicas do Brasil vai para casa porque considera que a escola é um restaurante-mirim.

Então, uma entidade que se transforma de escola em restaurante-mirim descola do seu prestígio. Esse descolamento é que é a causa de praticamente tudo que vem acontecendo de negativo na educação brasileira. E é a cara do que vai acontecer de ruim na sociedade brasileira. Quem quiser ver o futuro de um país não precisa ser vidente, basta olhar como é a escola pública de hoje. O futuro de um país tem a cara da escola que esse país tem no presente.

Escola bonita, bem equipada, professor alegre, crianças disciplinadas, contentes e aprendendo hoje é um futuro bonito para o País. Escolas feias, caindo aos pedaços, sem equipamentos, com professores descontentes, com crianças indisciplinadas hoje é um futuro feio para o País que a gente vai ver. Essa, talvez, seja uma das poucas coisas que não precisa ser vidente para perceber, para conhecer. Se a escola está descolada, o futuro do País vai estar descolado dos nossos desejos também. Não haverá sintonia entre o que a gente deseja para o futuro do País e a realidade desse futuro se, no presente, a realidade desejada para uma escola está descolada da realidade como a escola é.

Coloco ainda como um descolamento, para concluir, Senador, a ideia do descolamento com o próprio conhecimento. Houve um tempo, e não muito distante, em que o conhecimento saía da escola. Houve um descolamento. Hoje, o conhecimento não sai mais apenas da escola. A criança vê televisão, a criança vai ao judô, ao caratê, à ginástica, à natação. O conhecimento não está mais dentro da escola, porque a escola não é em horário integral, e hoje em dia o conhecimento tem variáveis muito maiores do que no passado. Então, a escola se descolou até mesmo do conhecimento de que era o centro de geração. Hoje a escola não é mais o centro de geração. E aí a gente reclama quando vê a escola desmoralizada, os professores assustados, desmotivados e descontentes.

Finalmente, o último descolamento, Senador, é o descolamento da escola com o Orçamento público.
Este País está pensando em reservar R$30 bilhões para uma Olimpíada que nem foi decidido ainda se vem para aqui. E ninguém pergunta de onde vem o dinheiro. Já estão sendo construídos todos os novos estádios, trens rapidinhos do aeroporto para os estádios, hotéis, e não falta dinheiro, por causa de uma copa mundial de futebol, que nós todos desejamos que venha para aqui.

Existe um PAC que prevê R$500 bilhões; existe um pré-sal que prevê R$500 bilhões. O Orçamento descolou da pré-escola e colou no pré-sal. Só que o pré-sal não vai gerar o futuro, até porque este País já teve muitos pré-sais. Já teve o açúcar; já teve o ouro; já teve a borracha; já teve o café; já teve a indústria automobilística. Tudo isso foi pré-sal que jogaram para nós como uma grande ilusão que nos faria, cada um de nós, emancipados da pobreza, e o País inteiro, emancipado do atraso; que faria o País civilizado, e cada um de nós com uma vida digna, decente, em uma sociedade igualitária. Já nos venderam muito pré-sal, e nenhum deles deixou o resultado que se esperava. Mais uma vez, estão nos enganando.

Isso quer dizer que a gente não deve explorar o pré-sal? Claro que deve, como tinha que explorar o açúcar, como tinha que explorar o café, como tinha que explorar o ouro, a borracha, mas sem enganar ninguém ao dizer que o futuro se constrói na economia. O futuro se constrói na pré-escola, no ensino fundamental, no ensino médio, na universidade e nos grandes centros de ciência e tecnologia, onde se gera a economia do conhecimento que o futuro vai precisar.

Hoje, o Orçamento público está descolado das escolas. Tem dinheiro até para escola técnica e universidades, mas não para uma educação de base, porque o dinheiro tem para viadutos, para viabilizar a indústria automobilística; o dinheiro tem para os bancos, para viabilizar a venda de automóveis, mas não tem o dinheiro necessário para garantir um salário digno para o professor e colar outra vez salários de professores com a dignidade que eles merecem.

Para colar os equipamentos modernos com a escola, precisa colar o orçamento com a escola. Para colar a qualidade do prédio com a escola, precisa colar o orçamento com a escola. Para colar cada um dos itens que foram descolados da escola nestas últimas décadas, a gente precisa colar o orçamento com a escola.

Nós temos o direito de nos indignarmos. Nós não temos o direito de não sabermos e nem temos o direito de não sabermos o que fazer para resolver.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT – DF) – Apesar do tempo já vencido, Senador Mão Santa, peço alguns minutos para concluir dizendo que esta Casa tem a obrigação de voltar a colar com a escola tudo aquilo que lhe foi tomado nos últimos anos: o prestígio, o salário, o equipamento, o prédio, a qualificação. Para isso, bastava a gente definir com clareza o que é que quer dizer escola, definir escola e acabar com a mentira de dizer que este País tem 200 mil escolas quando, na verdade, não chega a 30% o número das que a gente pode considerar escola nos dias de hoje. O resto não é.

Escola, em primeiro lugar, é um prédio que não tem nenhuma criança fora, todas as crianças dentro dela. Em segundo lugar, é onde os professores sejam bem formados, bem dedicados e bem remunerados. Cabeça, coração e bolso, essa é a santíssima trindade do magistério. Terceiro, onde os equipamentos sejam os mais modernos e onde o prédio seja bonito e confortável. E, quarto, onde fiquem, pelo menos, seis horas de aula, para que a escola possa colar-se com o conhecimento. Isso é escola.

Definido isso para uma, a pergunta é como fazer com que todos as 200 mil sejam desse jeito. Eu não vejo outro caminho a não ser aquele pelo qual eu me bato, insisto: a ideia de que precisamos federalizar a educação de base no Brasil. Não há como construir escolas, como elas devem ser hoje, nas mãos dos pobres prefeitos das nossas cidades. Nós temos que federalizar a educação de base. Federalizar com uma carreira nacional do magistério e com um programa federal de qualidade escolar e horário integral.

Isso é possível, Senador Mão Santa. Isso a gente já discutiu e vamos continuar discutindo, aqui, como fazer. Os recursos existem para isso. Custa muito menos do que uma Copa; custa muito menos do que uma Olimpíada; custa muito menos do que um PAC; custa muito menos do que um pré-sal e dá um resultado muito mais definitivo e muito mais orgulhoso para um país, que ao ler uma matéria, com uma carta como esta de uma professora, deve nos deixar não apenas com vergonha, mas com uma profunda tristeza, não apenas com ela, hoje, mas com o futuro que ela está descrevendo ao descrever a dor que ela sente, hoje, quando vai para a escola.

Professora, a senhora nos disse como será o futuro do Brasil ao dizer como é que a senhora se sente, de manhã, ao ir para a escola.
Era isso, Senador Mão Santa, que eu tinha para lhe dizer e a todos os Senadores.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sobre educaçao, bicicletas e a arte de dar "tchau"


A melhor hora do dia costuma ser quando saio da escola e me despeço de meus alunos. É exatamente nesse pequeno momento, tão ínfimo, tão sutil, que consigo perceber o quanto há de amor nessa relação entre professor-aluno.
É um “tchau” e um “fica com Deus” que não há em qualquer esquina... Esse simples gesto muda completamente toda a minha compreensão da existência. É como se mesmo apesar de toda a baderna em sala de aula, mesmo com toda a desordem no nosso sistema, ainda houvesse aquela esperança da caixinha de Pandora. E ela se revela nesse pequeno gesto...
Em cima da bicicleta contemplo suas expressões, seus risos de contentamento por mais um dia vencido. Alguns vão melancólicos, o que também é compreensível em suas idades. Em cada pedalada, a roda da bicicleta gira, girando o mundo em direção a vida de outras pessoas, de outros rumos. Sinto-me confortável com esse “ate amanha professora”!
E a batalha de Prometeu se instaura novamente todo santo dia...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Cantar :
(para Mariana Cioromila)

Quando eu canto sinto todo meu corpo ressurgir de um sono profundo... Cada nota em seu encaixe na coluna vertebral. Cada fonema, cada som, cada veia prova dessa elasticidade. Cantar é carne. Cantar é palpar mundos sutis. Cantar é plenitude. À parte disso, o que resta é dormência, formigamento dos sentidos.
Cantar é revigorar corpo e mente. É estar em “sim”. É deixar as notas musicais ressonarem nessa caixa acústica chamado corpo, passando pela traquéia, abdômen, nádegas, pés, mãos... Preencher todo esse espaço interior de musica. Preencher o silencio com beleza. Cantar é natureza. Imitação de pássaros. Fazer surgir dentro de si aquela vontade maior e mais suprema, que de tão grande nos ultra-pássaro.

domingo, 16 de agosto de 2009

Despedidas

Lençóis, mãos quentes
Lábios de sono
Olhos que insistem em não abrir
Adeus!
Sol entrando pela janela
Travesseiro vazio
Orvalho de manhã
Mais um dia adia...
Há dias assim
De despedida

Amar

Porque tanto querer você assim?
Egoísmo esse sofrer
Pensamento que vem e é vão
Distância, sensação
Vento frio entra pela janela
Chegada caravelas
À parte o mundo, estamos unos
Distantes, porem unos
Olhos noturnos,
Cansaço de lembrar
Fecho os olhos e vivo o amar
Com que afinal me preocupar?
Cabeça nas nuvens,
Ser melancólico como sou,
Sem julgar precedo meu pensamento
Estou correndo atrás do meu ser
Corre fugidio nesse vasto pesar, lembrar...
Cada esquina uma sensação,
Cada passo uma sofreguidão
Rouquidão do peito
Aperto o passo pra tentar fazer o tempo passar depressa
O eterno nunca mais
Sempre presente agora já
Sua musica ecoando na casa
Teu perfume no meu travesseiro
Minha busca pela alma
Atravessa a tarde estrada afora
Já não tenho mais chaves da inocência
Abro a casa a pedido de outro
Entro, e a luz vermelha acesa esquenta o ambiente
Minha mãe me acolhe
De qualquer maneira
Minha tristeza oca sustenta a oca
Feita da mais fina palha da mata
O eterno ir e vir se manifesta
Acolho essa dor em meus braços,
É o que basta.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Noites frias em São Miguel

A Espera da Primavera:

Frio. Acendo um cigarro e as imagens passadas passam apressadas nesse mar de pensamentos. Ouço uma musica triste de Djavan. Estarei futuramente no calor de mais um carnaval?
Hoje aguardo a primavera trazer seus suculentos frutos. Embora hajam frutos especiais de inverno, não mendigo mais esse nectar.
Eu e meu tabaco nesse quarto frio estamos completos. Lá fora, uma garoa de agosto é o unico movimento provavel na cidade fantasma. A fumaça aquece. Tenho bons livros na estante. Concentro forças pelo que vizualizo adiante.
Aqui jaz souvenirs de viagens que se tornam distantes como ecos de vozes de pessoas que passaram pela minha estrada. A noite densa acolhe esses fantasmas com sua umidade, entrega os pontos e convida-os a entrar e tomar um chá. Converso com eles.
-Que horas será na França? Adianto meu relogio espiritual para me adequar ao teu jornal de ontem. -Quanto trabalho em Buenos Aires, diga amigo! -A quem atende em Barcelona Mari querida?
Aqui, à morte da mãe de uma amiga rezam na igreja que brincava quando criança.
Teço planos para poder ir até voce, e deixar esse aqui agora no cantinho do quarto umido e frio. Teço planos para estar sempre presente, inteira. Dificil jornada, longa é a noite a espera da primavera...

Inspiraçao em Sao Miguel

Silencio na noite
Ruidos do ontem
Minha mente plana
Uma fresta na janela
aberta ao vento
Morte e vida num vão
Entrar em colisão
Inspiração,
Interrogação
Amores em cada estação
Paisagens brasis
pulsa a brasa do meu coração
quem dera um acorde, um violão
Vento, brisa de inverno no verão...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

São Miguel Arcanjo

Sob a neblina de Sao Miguel retomo as energias, ou as perco em meio as terras frias e umidas.
Estar aqui é pensar na energia que preciso armazenar.
Peguei um onibus, estava vazio. Para o fim do mundo somente eu posso ir. Li um livro em voz alta na estrada. Somente eu comigo mesma, as poltronas vazias, e o frio entrando pelas frestras das janelas do onibus velho. A lã da minha roupa aquecendo o pouco de calor que há.
As palavras de Steiner penetram-me a alma, entendo um pouco mais do espirito. Sinto-me acolhida pelos parcos raios de sol, observo a natureza do lugar. Os resquicios arbustos, as plantaçoes de cana, o povo humilde que vive nessas casas no meio do nada.
Cada parada do onibus, minha imaginaçao vai longe. Um senhor desce com algumas sacolas na mao. O que leva ele pra casa? Como sera seu caminho, seu destino? Como sei que ele tambem sou eu, fico tentando inventar um historia para o rumo da vida dele.
Observo as arvores de inverno, a terra boa pro plantio, as pessoas dessa regiao. Sao Miguel é uma incógnita.
Sua beleza esta na simplicidade. O Kitsch esta em dominando quase tudo. As casas, a arte, a musica, as ruas impregnadas de enfeites desnecessarios, sem propósito. E entao busco minha força nesse vazio.
Ao vizualizar ao longe a pequena cidade vejo encravada na terra meu nome, minhas paixoes, meus passos, vejo em cada pessoa que passou por minha vida nesse lugar. Vizualizo um mundo que agora esta encoberto de neblina e nostalgia. Um instante de purificação.

sábado, 1 de agosto de 2009


A Maldade e a Benevolência do Tempo:


Queria amarrar o tempo ao pé da cama. Deixá-lo imovel, sem contagem nenhuma. Isolar os fatos em minucias e transpor essa parede de concreto chamada "segundo".
Ampulhetas, lençois, viagens, descobertas. Desvendo o mundo dentro do tempo, e ele impiedoso leva tudo nas areias da praia que se movimentam incessantemente... Cada grao de areia um novo mundo. Cada pensamento me leva ate ao passado, me leva ao futuro, me deixa estar só aqui, vazia, imprecisa, incabivel em meu corpo. Eis o aqui e o agora.

Nada de carpe diem, nem nada de distraçao. A crueldade do tempo é ele ser impessoal, nao ter forma alguma. Senão já lhe teria dado umas boas bofetadas na cara! E diria: mas o que fez de mim? Mas o quer em troca senao minha vida consumida pelos seus graozinhos de areia na ampulheta?

O que sinto é um tanto confuso... o tempo tambem tem seu lado benevolente. Apaga as memorias, as lacunas, preenche o vazio de quando em vez... Tamanha maldade e benevolencia num unico ser! O tempo é imparcial, joga sem time algum. Não tem lado, não tem face, nem expressão. O tempo é uma eterna aventura, e se pudessemos transpor seus horizontes, o que veriamos entao?

Ai se eu soubesse como domesticá-lo feito um cãozinho... se eu pudesse virar a ampulheta pro lado contrario...e se pudesse caminhar no sentido oposto? E se, acima de tudo, eu soubesse que o tempo nao existe?

domingo, 26 de julho de 2009

Ó Linda!

Intensidade na cidade gigante de pedra antiga
Um grito repercutiu na mata
Tornando-se o lugar ideal pra morar
Quero estar lá
Quero envolver-me num inverno quente
Quero elucidar o porquê do sono de estar aqui
O calor me atrai,
O dia quente transpira amor
Águas claras, pessoas bonitas
Musica de bar, musica nas ruas de Olinda!
Pulsa meu coração nessa canção.
Estou absorvida pelo ar,
Pelas cores das ruas,
Pelos horizontes azuis,
Coqueiros, vaqueiros, chapéu de couro,
Água de coco, areia nos pés,
Uma metrópole varrendo a natureza
Igrejas queimadas pela historia
Uma memória deslumbrante
De um lugar distante...

sábado, 25 de julho de 2009

Viagem ao Recife

A principio quis fazer um diário, mas achei inconveniente a essa viagem poética. A essa viagem tão única e especial só poderia tratar poeticamente. Como o sussurro do vento nas dunas do rio são Francisco.
Pernambuco é intraduzível! Tudo bem... tem maracatu, tem afoxé, tem tapioca, mas acima de tudo tem gente! Gente com sorriso diferente, sotaque cantado, uma melodia sublime de um povo da historia do Brasil.
Cada rua que passávamos parecia ter sido palco de um momento importante na historia do pais. No surgimento de uma porção de coisas, das igrejas, da luta dos holandeses, dos judeus, das batalhas de índios e escravos.
Olinda especialmente me encantou... Suas ruas mais pareciam quadros, esculturas. Senti-me dentro de uma grande obra de arte. Senti a musica soar de cada paralelepípedo. O calor das pessoas em pleno inverno.
Encontrei muitas pessoas interessantes. Um povo comunicativo, e essencialmente musical, predisposto a ajudar em qualquer circunstancia. Encontrei um lugar no Brasil onde se pode sentir em casa. Ganhar sorrisos sem nada em troca. Dançar frevo e maracatu!


Albergues:
A experiência maior foi ter encontrado tanta gente interessante do mundo inteiro com o mesmo propósito na vida: viajar. Percebi que esse também é o meu propósito na vida, conhecer outras culturas, outras línguas. E que acima de tudo preciso urgentemente traçar um caminho, um rumo, uma direção para alcançar esse fim.

A viagem dos solitários:
Éramos umas 10 pessoas mais ou menos. Cada uma de um lugar diferente. Recém chegados ao albergue de Boa Viagem. Saímos todos pra tomar cerveja. Todos viajavam sós, e o encontro foi intenso, bebemos muitas cervejas, dançamos samba de qualidade e um show de Davi Moares. Quanta gente bonita há nesse mundo!!!

Artesanato:
Visita ao Fenearte, uma feira nacional de artesanato. Um galpão gigante com tanta gente! Arte de Pernambuco, cores, sons, ritmos, calor. Precisamos andar seguindo o fluxo, pois que senão não dá nem pra andar.
Uma exposição de obras de arte recicladas foi o mais interessante. Haja criatividade!

Recife antigo:
Ruas que parecem casas européias do século passado. Misturado a cores essencialmente brasileiras. Um almoço num restaurante singelo, mamulengos por toda parte. Arte e mais arte! Comer é uma arte!

Garanhuns:
Não acreditei que a 300 km de Recife houvesse frio. Mas estava enganada. O frio de Garanhuns realmente existe. A infra estrutura da cidade é escassa para quem não é pernambucano. Mas os shows foram ótimos!
Com direito a uma banda instigante de rock que a estilo de Bowie, deixaram o povo de Garanhuns de cabelo em pé! Ate meninas nuas dançando no palco! Gritem: maconha!!!!

Porto de galinhas:

Um lugar lindo, ótimo para mergulho! Enturmei-me bem com os peixinhos. Bem mais do que com as pessoas que na malandragem cobram 10 reais por uma cerveja! Enfim, uma praia para turista ver. Por isso eu e meu pé de pato ficamos a vontade dentro do mar, pois fora a coisa complica...

Maceió:
O mar mais lindo que vi na vida! Dizem que ele nessa época do ano fica escuro. Pois eu nunca vi um mar tão claro na vida! Apesar da chuva, deu para cair na farra e dançar um forró. Embora esse seja outro local para turista ver...
Navegar o rio são Francisco e banhar-se em suas águas transforma qualquer individuo! O sol escaldante queimando a pele. Caminhei só pelas dunas desse paraíso, onde o rio se encontra com o mar, fascinante! Só conseguia pensar poeticamente. Só conseguia sussurarr seu nome. Só conseguia ouvir o vento cantando no meu ouvido uma canção celestial. Momento único!


Olinda:
Aqui me senti em casa. Fora dos olhares de turista, juntei-me ao povo olindense. Tornei-me um deles. Os bares convidativos, com chorinho, maracatu não nos deixam querer voltar pra casa cedo. Uma doce tentação! O ar quente da tarde se estende pela noite, e a cidade fica com um ar sensual, uma sensualidade que eu nunca tinha visto na vida!
Muitos turistas, muita gente bonita e interessante. Muita conversa boa jogada fora. Muitos risos, musica, cerveja, sol, vestidinhos e havaianas. Rendas esvoaçando pelos braços dos vendedores ambulantes com suas peles queimadas de sol.
Os repentistas cantando uma canção única e especial. Dizeres do sertão. Elogios as mulheres bonitas, a paisagem é incondicionalmente a mais bela que vi na vida! O lugar que quero viver e morar.

segunda-feira, 6 de julho de 2009


Só:

Nessa livre escolha de mundos
Escolho sempre ser o que é só
Escolho sempre o ser vazio
Cheio de “quases”
E inquietações sem limites
Sou aquele que transborda o copo d’água
Sou aquele que não tem nome
Sempre tão cheio de si que se esquece
E só se lembra disso ao ouvir Chopin
Que se embebeda noite afora
E ri e chora feito criança em noites de frio e calor
Debruça-se sobre a vida com sofreguidão
E mostra os dentes sujos de pão
Ludibriada pelo incomodo
Pela ausência
Pelo saber que não sabe de coisa alguma
Pela incontinência do corpo
Pelos gestos sagrados
Espirituais que lhe deita a fronte
Que se lhe mostra presente na desgraça
Agarra esse instante de karma!
Preenche esse copo de liquido amniótico
Preenche esse não saber respirar
Com ar de fumaça
Pois tudo na vida é vão
Cabe-lhe o infinito...

Sobre o Equilibrista da corda bamba:

O que é fora ou dentro da gaiola?
O que é sanidade e loucura?
Quase beiram o lado pendente da corda bamba,
de que lado voce samba?
Que cançao te faz feliz?
Enamora a noite ate virar dia,
faz da vida poesia, boemia, liturgia licergica.
Maternal mulher sagrada
repousa teu véu sobre nossas angustias!
Quao sutil sao as palavras que dizemos,
cada fonema, cada som tem seu peso,
sua contrapartida, seu avesso.
E eu, debaixo do lençol,
tarde da noite pergunto à vida
pelos escombros da casa...
Vi passar um passaro do teu sonho,
vi transmutar -me nesse ser onirico.
Acordo e ainda sonho...
Faço um acordo com meu corpo,
deito-me na relva e me ponho a cantar!
Ja passou a hora de voltar,
ja passamos todos os Tons...(Zé, Jobim)
e nessas brincadeiras de Dalí
pergunto: onde meu ser esta?

quarta-feira, 24 de junho de 2009



ZOO:


Cada espécie rara, trazida dos confins do Marrocos, da Siberia, da Africa Total.

Num dia de sol se escondem por detrás dos resquícios arbustos

Os risos infantis, delicados como pluma

Ecoavam na mata-concreta

Os animais somos nós!

Somos nós que olhamos a nos mesmos

Presos naquelas gaiolas,

E ainda achamos belo o espetáculo da vida num zoológico

E nos entediamos com a vã liberdade aqui fora...

Para que afinal presenciar o absurdo?

O natural abstendo-se de sua naturalidade?

E o artificial predomínio do cinza,

Do sono e da fome?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sobre o presente:

Porque me seduz ó noite!
Em seus cabelos prateados de nevoa flutuante
Dos sonhos de Tarkovsky acordei sem fôlego
Jurava fazer chuva dentro de casa
Corria entre paredes úmidas de uma escola abandonada

Porque noite tão densa,
Não me deixa dormir
Se o dia preguiçoso não quer ir embora
Mesmo com a cortina transpirando o ontem?

Porque tudo tem de ir e vir?
Porque tudo precisa de sim e de não?
Porque não passamos como maquinas compressoras
Sobre esses estados de consciência?
E pensemos numa vida mais leve?

Quanto de mim resta nessa noite para o amanha?
Quanto sou eu quem diz,
E não se renova? E não retorna?
Simplesmente fica aqui :extático
Paralisado pela nevoa e neblina
Confuso, hereditário,
Silencio da retina,
Cansaço de domingo no balanço da rede
Existira amanha?
E esse eterno é? Que será dele então?

sábado, 13 de junho de 2009

Aos amigos:

Uma musica sublime sob o meu teto, impulsiona a minha alma a dançar...
Incrível parentesco de idéias nos convidam a ser um só. Unifiquemos as vozes. Cantemos no mesmo tom! Sejamos reluzentes estrada afora!
Essa nossa jornada implica nossa força espiritual. Demanda energias sutis desconhecidas. Energias vitais da força do vento, das águas do mar, do cabelo esvoaçante, das lagrimas derretidas.
É uma pena estarmos sempre sós. O que torna o nosso encontro ainda mais interessante. Quase chego a degustar esse paladar novo. Quase consigo dizer que estou em mim. Quase consigo palpar o que os sábios chamam de “iluminação”. Não pela via do “não”. Nem pela via do afastamento. Mas pelo “sim” à vida, e a tudo que ela nos traz, sem ater-se ao que é bom ou ruim. Indiferença também não é. Digamos que é um estado de consciência plena do nosso “estar” em si através do “outro”.
Talvez muitos foram os filósofos que se debruçaram sobre essa questão do “SER”. Mas tal como ele se encontra em minha alma nesse momento, claro e preciso, talvez ninguém nunca tenha alcançado. E também porque só posso experimentar o mundo sendo eu mesma. Não posso ter conhecimento de algo sem vivenciar isso em minha própria pele.
Às vezes me pego pensando na harmonia que nos une, seja pelo acaso, seja pelo destino. O que realmente importa é encontrar o outro, e encontrar-se a si próprio nessa grande viagem dimensional.
Tantas pessoas interessantes que nos fazem pensar na possibilidade de tudo ser uma força única, magnífica por excelência! Tanto magnetismo e profundidade nesses olhares que me olham!
Aos amigos sinceros, e aos inimigos que me ensinam a trilhar rumos complexos, desejo nosso eterno encontro, pela nossa viagem astral. Tão queridos, que me inspiram a querer viver sempre mais na eternidade. Nosso presente será eterno, pela união do individuo com o cosmos.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Johann Wolfgang von Goethe


“Das Afinidades Eletivas”

O que é o desconforto? As afinidades afinal? Isso que nos repele e nos une ao acaso, porem com tanta sorte e zelo que chega a ser destino?
Alguém teria a resposta para me dizer se só de acaso vivemos, ou se somos predestinados antes de nascer?
Nas tragédia gregas, sempre o destino regia imperativo a sua ordem brutal contra todos as vontades humanas. Não há desejos e vontades. Somente o destino impregnando a “não- fuga” dos personagens centrais. Não há por onde correr. Não há como fugir. Nossa vida será o que tem de ser, assim como ditam os deuses celestiais.
Agora pensar o acaso é muito mais interessante, e, no entanto, muitas pessoas acham que ele carrega algo de vazio, sem nexo, sem sentido. E é exatamente esse nexo que eu tanto abomino! Porque das muitas vezes, nós somos os maiores criadores de sentido para o universo. Talvez se não houvesse mentes humanas e racionalidade, o sentido e o nexo deixariam de existir para ser apenas “acaso”. Doce acaso...
Podemos ainda questionar sobre o que faz algumas partículas do universo se atrair ou se repelirem... Será por mero acaso? O que as une? (essa era mesmo a pergunta inicial). Fatalidade do destino, ou acaso?
Só citar um exemplo: o que leva duas pessoas a se atraírem? As afinidades eletivas, tais como os gostos, os sonhos, e, muitas vezes ate mesmo as diferenças atraem... Mas quem faz essa afinidade acontecer? Quem é o agente que impulsiona essa harmonia ou desarmonia? Dá pra explicar isso racionalmente???
Alguém por favor, me dê uma sugestão! Explicações da Física quântica, Religião, e Biologia, também serão muito bem vindas!!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Intervenções:

"Mas onde cresce o perigo, cresce tambem o que te salva"
(F. Holderlin)


"A Experiência Maior"
Eu antes tinha querido ser os outros para conhecer o que não era eu. Entendi entao que eu já tinha sido os outros e isso era fácil.
Minha Experiência maior seria ser o outro dos outros: e o outro dos outros era eu.

(Clarice Lispector)

Sobre as Virtudes de Aristóteles:

Astrologia do dia:

Quarto crescente
Lua e Sol transitando em casas diferentes
Só eu sei dosar as virtudes aristotélicas
Que tomo emprestado quando preciso de ajuda conceitual
A criança se diverte enquanto uma prisioneira quer se redimir
O balanço da musica, do pop ao jazz é tão doce
E tão amargo a dor de te perder
Quem nunca tive, esta em mim
Oposições não me comovem
Aprendi a lidar com essas situações,
Me entrego a todas,
Sem moderação,
Minha virtude não tem dosador
Sei quando acabou, ao amanhecer na mesa de bar
Sei que durante sete dias o trabalho,
E a Yoga requerem minha saúde
E me situo em extremos
Nos cumes da audácia e contração
No sim e no não
Na pequenez e na imensidão
Quem sabe de mim é meu corpo já cansado
A espera de um novo dia de batalha
A pulsar hormônios, a querer sempre mais
E não cansar de ser o que ainda não sou
Busca infinita entre o destino e o acaso.

domingo, 31 de maio de 2009

Intervenção:

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,porque a ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 28 de maio de 2009

TEXTOS DE 2008

"Sobre A Maçã"


No Estado de Natureza não penso em Adão e Eva vivendo num paraíso, onde tudo é posto a perder ao se experimentar o fruto proibido; a maçã.
Degusto uma laranja. A metafísica e a história repousam no meu Ser.
Como teria sido o primeiro indivíduo que experimentou uma laranja? Estava no alto da laranjeira a tenra fruta e seus suculentos e refrescantes gomos ao sol.
Passarinhos espertos, muito antes de existir a razão, já sabiam do gosto irresistível dos gomos.
Pelo método (que ainda não era método) dedutivo, alcançamos o topo das arvores e nos saciamos da deliciosa fruta.
Qual foi a sensação de êxtase, qual gosto reteve? Qual doce e acidez a autêntica laranja tinha antes de ser plantada a base de pesticidas?
A Laranja me traz questões religiosas, sagradas, científicas e evolutivas.
Uma Laranja me causou delírio.
Estou saciada.

TEXTOS DE 2008

Sobre o Nada e o Amor

Abrigo nesse isntante um palpitante não estar em mim. Descontrolo-me facilmente. Pulsam hormônios juvenis. Pulsam palavras hostis. Não sou quem diz.
O diabo se reveste de minhas palavras, de meu silêncio, repousa inteiro em minha gula.
Se observo impaciente a vida é porque caminho no plano da aparência sem nexo: minha fraqueza não permite a amplitude, a visão do todo. Muito embora eu sempre saiba que esse TODO sempre esteve lá. Pulsando muito além e aquém de meus pulsos caóticos.
Cada encaixe da coluna vertebral tem sua extensão e dor. Sinto o "não" surgir do estômago e vigorar até a garganta.
A doença do domingo. Meu avô Domingos morto. Seu fantasma presente em meu gene, e na minha eterna busca pelo Ser.
Hoje pensei em separar-me do mundo que criei para mim. Das emoções frágeis e temporais. Dos amores que são como ventos em dias de calor.
A necessidade permeia tudo. Brutal e impiedosa, meticulosamente amante da sorte e do acaso.
O costume costurado pelos retalhos dos segredos familiares bem guardados.
Somos a soma de necessidade ocasional e destino necessário. Contrários por essência: Animais Angelicais.
Sentimos fome de AMOR.

TEXTOS DE 2008

Sobre (DES)Educação:

Ser professor é estar apto para "deseducar".
A educaçao "caduca" as pessoas. Faz delas depósitos, tubos de ensaio, ratos de laboratórios, invólucros de pretensões alheias.
Não acredito na educação. Nos meios que se justificam pelos fins.
Se a finalidade é formar sujeitos aptos para conviverem com a sociedade, não deveríamos apertar tantas vezes o "botão que dá choques" em suas cabeças, no imenso esforço que fazemos para que o "aluno-rato" não siga o caminho da desordem.
Gritos deseperados, choro, conversas amigaveis: nada adianta!
Quanto tempo precisamos para compreender que o ser humano é um animal? E que o cientificismo arcaico e a razão são imposições severas demais para quem só quer comer, dormir e se reproduzir?
Ensinemos arte! Ensinemos as boas canções! Ensinemos não no sentido de inculcar em suas cabecinhas ocas conhecimentos fajutos, mas sim, através de uma troca.
Hoje mesmo, uma aluna evangélica, da qual nunca esperei nada ao longo do curso, me ensinou a passagem da Biblia sobre JÓ, paciência de Jó... Achei interessantíssimo!
O que me interessa de agora em diante é trocar figurinhas e causar espantos e desordem (no bom sentido da palavra). Eis o que me interessa na deseducação!

TEXTOS DE 2008


Para Drummond:


Leio Drummond.
Acho que nunca uma leitura me fez sentir tão completa.
Cada palavras meticulosamente encaixada ao momento.
Sua dor é minha dor. Eu a tranpus e chorei feito criança. Chorei de soluçar, de não aguentar tanta beleza, tantas palavras puras, naturais e verdadeiras.
Me senti pequena. E cheia de emoções nunca antes tocadas. Senti voar minha mente em ambiente com cheiro de casa nova, mas com móveis antigos de Itabira, dos quais lembro da infância.
Encontrei um mestre. O único que não me pede nada em troca. Que me provoca delírios desvairados.
Quero penetrar-lhe as vísceras. Devorar suas carnes. Me afogar nos versos. E cair lúcida no chão gelado que me veste.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Escola

Estou na escola. Frequentemente estou na escola. Não respiro mais meu ar. Porque estou na escola. O ar é dos outros, para os outros, não é meu. Não é criar, muito embora, todo professor tenha de tirar leite de pedras...
Fico olhando essas professoras que passaram a vida inteira nessa profissão. Não me animo nada com essa situação. Dificilmente se encontra alguem com bom senso, sem nenhuma sequela.
Ontem assisti ao programa Profissão Reporter na tv globo, cujo tema foi a situação da educação no Estado de São Paulo. E por incrivel que pareça, fiquei impressionada com toda aquela realidade educacional do nosso país. Mesmo convivendo com o problema diariamente, ele sempre me pareceu distante, nunca pareceu me pertencer. Estranha sensação...
Hoje, na aula de filosofia, uma aluna me questiona:
-professora, porque questionar "quem sou eu"?? Mas que perguntinha mais descabida?!?! (disse ela).
E eu tentei buscar as respostas de Platão, de Descartes e de todos os filósofos, escritores, jornalistas, padres, terapeutas que me vinham na memória. Mas o fato é que era exatamente essa pergunta que ecoava em minha mente ao pensar sobre essa minha profissão de professor.
Pra que afinal perguntar? Pra que afinal tirar leite de pedra? Pra que afinal querer mudar aquilo que é irremediável? Lutar contra si mesmo? Contra o sistema???

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Limpar a casa.
Doar o corpo a uma pratica tão simples quanto varrer e passar pano.
Algumas horas do dia e seu ambiente esta novo!
Você pratica exercícios,
E ainda consegue uma casa cheirosa!
Excepcional!
Diga-se de passagem, que há quem pense que a faxina é coisa de doméstica:
Eu acho que faxina é a atitude que deveríamos ter com a vida, com o mundo.
Organizar os pensamentos, como cada livro na estante.
Limpar os pensamentos desnecessários, que só nos fazem sofrer,
Passar um pano nos vitrôs do passado.
Sentir a maciez da cama limpa. Receptiva a novas descobertas e sonhos...
Mas que sensação maravilhosa!
E o mais interessante é pensar: “fui eu quem fez”!
Recompensador!
Pratique esse exercício de lucidez, calma, organização e bem estar!
Faça faxina na casa e na alma!

segunda-feira, 4 de maio de 2009


Da Comédia:


A vida é apenas um resumo de risos
Em resumo, não passa de uma busca pela felicidade.
Momentos bons, autênticos, de risos
Causados, às vezes, pelo acaso,
Às vezes pela tristeza,
Às vezes pela bobeira,
Ser bobo também é alegre!
Não o ignorante: mas o bobo.
Das festas, comida na mesa,
Risos ecoam na noite,
Vestimos máscaras de gargalhadas
Seguidas de algumas garfadas
À meia luz todo o pudor vai-se embora
Ficam apenas as incontidas risadas
Não é mais amor,
Não é mais galanteio,
É algo medonho, e que, no entanto
Mostra sua graça,
Mostra sua desgraça
Ao mostrarmos os dentes
E rirmos noite afora!
A bebida sobe a cabeça
Somos o encontro de futilidades
Mais do que necessárias!
A comédia tem seu valor
Maior e mais sublime do que a tragédia.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Cotidiano

Sempre a sua sensação
Distraio horas pra tentar esquecer
Chega nossa hora
Pernambuco a vista
Oferenda do meu dia ao trabalho
O que me acorda
Ancora-me a terra
Cabeça nas alturas
Oportunidades éticas
Praia deserta
Água de coco e chá
Postas de peixe a mesa
Toalhas no varal
Preguiça, continência descabida
Sou o que não esta no mapa astral
Governo de mim,
Sindicatos plurais manifestam
Quando não sabem ler
O absurdo da nossa animalidade
Apaguem as luzes!
Contemplem a nossa cegueira!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Frescor

Um frescor atravessa meu ser pela manha e ao entardecer. Sussurros, ventos, sombras misteriosas do canto espiritual de mim. Tudo tem um sentido quando se preza o ritual. Nosso encontro traz “deixas” no ar. E não deixa nada a desejar. Não há desejo, só vontade de ser e estar pleno.
Como somos carentes de atenção! Como caímos diante do outro estupefatos pela ausência de carinho. Olhem para ele! Olhem para mim! Olhem ao redor! Contemplem a fragrância dessa umidade, do ser fleumático e melancólico. Dêem-lhe reverencia! Toda vida tem sua excelência! Mesmo aquela que veio ao mundo pela fraqueza...
Sinto as palavras passadas ainda pulsarem dentro de mim como uma reverberação ainda sem nexo. Vai criando forma sem pedir licença, vai se transformando em pensamentos avulsos, que ordeno em minha alma, ate amar esse sentimento novo. Ate formular frases e palavras que dêem vida ao que já passou. Lembrar o passado é uma forma de se tornar bondoso.
É com olhos de amêndoas úmidas que vislumbro como num filme o intenso fim de semana. Como se num pressagio o tempo não mais existisse, volto ate o mercado em que o vinho estava à espreita. À noite, a criança, a menina moça. A ausência de luz e a imensidão desconhecida que se interpôs sobre nós.
Sobreveio a nevoa, a audácia, o galanteio, a chuva e o ultimo fôlego de ar. O dia seguinte e outro, seguido de outro ate surgir o ultimo grão de areia na ampulheta. Quis parar o tempo. Chorei descabida em meu corpo, sentindo o conforto da náusea imperar, feito um dilúvio que inundava todos os espaços mais recônditos de meu ser.
Saboreei o sabor da vida em uma semana. Toda ela poderia acabar no meio da estrada de volta ao cotidiano. Toda ela tinha sido preenchida por completo! Nada mais poderia acontecer que fosse maior e mais singelo do que o amor.

domingo, 19 de abril de 2009


Sobre Arvores e Platão


Ao observar atentamente a beleza inexplicavel das arvores sob a iluminaçao do sol ao se pôr, tive a sensaçao de que Platão estava certo...

A beleza disso tudo deve estar num outro plano. Não que não haja beleza no momento exato da contemplação. Mas senti que havia um plano maior e mais sublime, que fazia com que toda a natureza não passasse de mera cópia.

Um plano ininteligivel. Um plano que apenas as pessoas iluminadas puderam vislumbrar. Comecei a prestar atenção nos ruídos sutis da atmosfera. Barulhinhos de porta, rodas de bicicleta, estalar do matinho verde, sopro de vento... Tudo que é tao puro e simples, as cores do céu e a perfeiçao das formas das arvores, todas tao certinhas e belas!

Pensei na existencia da arvore ideal. Pensei no som perfeito, nas cores puras...

Vesti meu óculos de sol e segui viagem.
Lista de 7 Vontades:

1) Conhecer Deus
2) Conhecer a mim mesma
3) Encontrar o "Outro"
4) Encontrar Pai e Mãe
5) Reencontrar o Trabalho
6) Encontrar o Mestre
7) Encontrar o Sagrado

Faça você tambem sua lista de 7 vontades!

sábado, 18 de abril de 2009



Aforismos de Gurdjieff



  • (Ame o que você "não ama".)
  • Para o homem a mais alta realização é ser capaz de fazer.
  • Lembre-se de você mesmo, sempre e em toda parte.
  • Lembre-se de que você veio aqui, porque compreendeu a necessidade de lutar contra si mesmo. Agradeça, portanto, a quem lhe proporcione a ocasião para isso.
  • O melhor meio de ser feliz nessa vida é poder considerar sempre exteriormente - nunca interiormente.
  • O verdadeiro sinal de que um homem é bom, é ele amar seu pai e sua mãe.
  • Respeite todas as religiões.
  • Amo aquele que ama o trabalho.
  • Não julgue um homem pelo que contam dele.
  • Leve em conta o que as pessoas pensam de você - e não o que dizem.
  • Junte a compreensão do Oriente e o saber do ocidente - e, em seguida, busque.
  • Só aquele que puder zelar pelo bem dos outros merecerá seu próprio bem.
  • Só o sofrimento consciente tem sentido.
  • Se quiser aprender a amar, comece pelos animais; eles são mais sensíveis.
  • Ensinando aos outros, você mesmo aprenderá.
  • Lembre-se de que aqui o trabalho não é um fim em si mesmo. É apenas um meio.
  • Só pode ser justo quem sabe se pôr no lugar dos outros.
  • Se você não for dotado de espírito crítico, sua presença aqui é inútil.
  • Aquele que tiver se libertado da "doença do amanhã" terá uma chance de obter o que veio procurar aqui.
  • O repouso não depende da quantidade, mas da qualidade do sono.
  • Durma pouco, sem se queixar.
  • A energia gasta para um trabalho interior ativo se transforma imediatamente em nova reserva. A que é gasta para um trabalho passivo se perde para sempre.
  • Um dos melhores meios de despertar o desejo de trabalhar sobre si mesmo é tomar consciência de que a gente pode morrer de uma hora para outra. E isso, é preciso aprender a não esquecê-lo.
  • Fé consciente é liberdade. A fé emocional é escravidão. A fé mecânica é estupidez.
    A esperança inquebrantável é força. A esperança mesclada de dúvida é covardia. A esperança mesclada de temor é fraqueza.
  • Aqui não há russos, nem ingleses; nem judeus, nem cristãos.Há somente homens que perseguem a mesma meta: se tornarem capazes de ser.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

DEUS AQUATICO

Deus aquático!
Apareça a mim com suas mil cabeças
Suas mil faces,
Com suas teclas softs
Amacie-me a testa
Teste todos meus prazeres
Mas que seja sempre além mar
Masque meu corpo frágil
Que seja salutar constante
E imprima a força do néctar vida!
Tempos de crença sem crença alguma
Tua banalidade me consome
Deus aquático imprima em nossas vértebras
Cavidades que dão no alem
Dissipa tua seiva,
Sua fluidez universal
Seu cabimento em toda forma possível
Sua renuncia à estática
Seu movimento perene
Suas cavidades preenchidas de profundidade
Deus aquático liberte-nos desse mal estar
Que padecemos de burrice
Que a mentira é tanta
Que começamos a dar-lhe credito
Mas nosso credo esta vazio
Nossa alma reclama esse vasto mar
Que a esperança é a imediata
Contemplação do horizonte
E em nosso corpo cheio de ti
Que é elemento palpável
Mas também fluidez inesgotável
Fonte de vida!
Água e sal

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A Dança

A dança da vida nos impulsiona cambaleantes a estarmos sempre sóbrios, jovens e pulsantes mesmo que fora do compasso. Perco o passo e adoeço nesse mistério constante que é estar vivo. Entro novamente na roda que gira para um lado e para o outro. Na cidade que grita sua musica alucinante.
Finjo que esta tudo bem e sigo a artéria iluminada das avenidas. A musica é uma teia, a única e verdadeira que nos permeia nesse espaço sem lugar. Nesse estar em lugar nenhum, flutuando no nada palpável.
Ao menos as ondas são poéticas e sabem que tudo vem e vai. Sabe que para ser sábio nada precisa saber. Sabe que tudo que foi não volta e mesmo assim é único na imensidão.
Sinto a vida pulsante nas veias, nas notas de Jacques Loussier. Nas intrincadas historias de vida de constelações familiares. Nesse sofrimento budista que todos nós dançamos suavemente, outrora com mais intensidade. Quando a onda gigante te engole, a felicidade resplandece na dor de existir.
Então questiono o porquê dos parágrafos tão justapostos. O porquê dos porquês infinitesimais. Dos “sem mais nem menos”. Dos que estão ai sem perguntar coisa alguma. Dos que se encantam com uma bolinha de sabão. Dos que sofrem suas dores como um fiapo de carne incrustado no dente.
Deve haver uma harmonia nesse Cage. Deve haver intenção absoluta nesse estado de miséria e glória. Nos filmes iranianos de figuras misericordiosas. No árduo trabalho dos que tem fome. No sol que se esconde por entre as nuvens de outono.
Algo que torne isso tão puramente particular e majestosamente universal. A teia do amor revigorante. O não descartável. O eterno laranja transitório das nossas vicissitudes longitudinais.
O sol e a brecha do condomínio sem luz. Nossa dança é a lástima, é a ganância, é corromper-se com estímulos behavioristas. Deixo-me levar pela dissonância. Deixo a musica dos carros entrarem pela janela sem pedir permissão. Os aparelhos auditivos dos adolescentes poluírem o hemisfério com sua musica sem qualidade. Deixo os gritos dos hormônios infiltrarem meus ouvidos.
Bato os pés, balanço o corpo para um lado e para o outro. Me entrego totalmente a essa entoada. Rodopios, ponta de pés, pernas pro ar, tecidos voando no céu. A dança da vida me consome por inteiro, já não sou mais eu quem dança. E, no pano de fundo, o ser que observa, vendo e ouvindo a canção celestial, abandona a regência e participa junto a nós nesse fluir. Gozamos todos do mesmo SOM.
A Neve

A neve inexistente solidifica a solidão presente
Estagio da alma
Passagem de dor à luz
Passagem para estar consciente
A febre estremece os dentes
Apazigua o calmo,
Torna-nos seres despertos de si
E de sua desgraça
Existir é dor
A dor que nos perpassa
Os espíritos que nos corrompem na juventude
A água e a terra em casa
Entendimento do profundo
Perceber nossa fragilidade
Perceber o quão confusos
Precipitamos pelos olhos do medo
E a noite que passou levou mais uma náusea
Ao surgir o dia a dor é outra,
Trava os músculos,
Entopem narinas, cavidades do ser
Para expelir do corpo a branquidão do existir
O amarelo do sorriso
O vermelho da raiva,
Limpar a casa para mais uma devastação
Da natureza, da NASA.

domingo, 29 de março de 2009

Hoje econtrei o meu ser andando pela rua. Mente aberta perguntei-lhe: porque fugia tanto assim de mim? Ele retrucou que na via da fé tudo era ilusao. Nao acreditei muito nele. Mas senti em seus olhos azuis reluzentes um "SIM" à vida. E só unicamente por conta disso, quis unir-me a ele. Quis entregar-me como amante. Quis transmutar-me num outro ser, que sou eu mesma.
Variantes nao encaixam, a casa esta em ordem agora.
Visto minhas roupas espalhadas pelo chão. Observo as ondas que ele diz serem finitas embora sempre retornem pro mesmo lugar que é a imensidão. Os legumes vivos e o peixe simbolizando o sagrado. Estamos unidos para sempre, embora nossa relaçao seja finita. Não sabemos do amanhã. Que bom esse dia!
Que bom encontrar amores! Que bom fazer poesia!

terça-feira, 24 de março de 2009

Eu tinha uma historia tão bonita para contar
Era uma fazenda, um expressionismo surreal
O doce vira sal
Nossos corpos nus trepidavam pelas garras de veludo
Qual seria a cor?
Qual era o acordo que acordaria pra vida?
Nostalgia é o que padece a alegria
Sussurros ventanias nos ouvidos
Mas o dia é quente como estrangeiro de Camus
Ferve o deslize debaixo do ventilador
Olho pro céu escaldante e penso
Que sentido tem o movimento das coisas?

segunda-feira, 23 de março de 2009

Acorde! acorde!

Como é difícil viver! E quanta graça há na vida! Quanta gratidão por estarmos aqui ó Deus? Quanto serei eternamente grata às pessoas inimigas! Quanto tenho de aprender com elas, a me olhar nos olhos dos outros, dos diferentes?
Olhar para si mesmo é escuro, e quem atravessa essa escuridão sabe que alem dela há uma demanda enorme de vazio perfeito. Não aquele do niilismo nietzchiano, mas um vazio que só se contempla ao diminuir o fluxo de pensamentos.
Como racionalizar o que não se diz em palavras? Constelações, sonhos, alucinações? Vagamos pelo mundo pela busca do autoconhecimento, mas quem são essas pessoas que bocejam nos trens urbanos? Quem são essas pessoas que cortam com a faca a cebola, o alho, o arroz? Quem são essas pessoas que percebem vento, branco, preto, azul? Que sentem o frio erguer os pêlos do braço?
Quem somos nós senão detalhes, sementes, sutilezas escondidas sobre a grande questão: “quem sou eu?” Se soubéssemos daríamos risadas! Se soubéssemos viraríamos crianças que balbuciam. Rastejaríamos pelo chão por toda a nossa ilusão de ter perdido tanto tempo matutando sobra o nada.
O solo, as pedras, a terra confortar-nos-ia nessa angustia. Mas o riso continua na face, e nada de mal pode ultrapassar-lhe. Nem a noite de insônia, nem o relógio que dita as horas de acordar. Nosso horário estaria em abster-se do Tempo. Já é tempo de despertar! Já é vazio esse caminho sem espaço, já é em nada que pisas. Nem ondas sonoras, nem vibrações cósmicas, nem OM, nem UM, nem nada que possa suscitar acorde.
Acorde!

domingo, 22 de março de 2009

Transmutações

Hoje o almoço é sem alho e cebola. Experimento gengibre, paladar novo. Quantas novidades virão? Ainda é cedo e a angustia me pega de supetão, quero experimentar muitos sabores e massagens.
Quero transmutar-me num ser ainda inexistente, sentir o gosto do amargo e do contente. Dos sorrisos esbeltos metálicos. Quero da flor meus cabelos grisalhos, biscoitos amanteigados de novelas de Helena.
Quero tirar folga na segunda feira. Uma manga verde, um tacho de doce de banana, abobora. Frutas locais.
A gasolina comendo o carro na estrada. Presidente Bush sendo rechaçado a sapatadas. Quero o encanto de ainda estar livre, mesmo na eterna ilusão de Maya.
Da beleza da vida quero palavras amigas, sinceras, cantinhos aconchegantes. Estar plena e serena na certeza de que a verdade é inatingível. E que, no entanto somos sagrados em nossa pequenice.
Pensamentos modernos não me afligem, quero beber dessa fonte somente o que me for de vida. Fora dela estou num canto a ouvir boas canções. Não em sala de espera, mas na redenção completa da maturidade sincera.
Acobertado pela possibilidade de dor, a instabilidade de mente diminuir e assim conquistar pequenos vastos passos na vida terrena.
Desejo amor sincero. Elegância e atitude. Mesmo silenciosa. Mesmo calando-se na hora certa de calar-se.
Há tanto tempo tinha paixão. Hoje choro descabida a falta de motivação. Mas ainda desejo a caixinha esperançosa de Pandora. Ainda tenho forças que não conheço em mim. Ainda sinto presente um imensurável amor pelo mundo, por mim, pela natureza, e pela consciência acima de tudo.
Quero lembrar que somos sempre UM. E esquecer nossas desavenças. E esquecer nossa pequenez, nossas intenções erradas. Saudar Dionísio em sua plenitude fantástica, magnífica e orgástica! E ainda aprovar a nossa ética, que nos torna cada vez mais humanos.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Para que servem os professores?

Para que existem professores?
Osho tem uma resposta muito interessante para a pergunta. Diz ele que há tempos atras a profissao de professor era tao estimada quanto qualquer outra profissao. O professor era tao cogitado a ponto de um aluno andar leguas para ir em busca de seus ensinamentos. A sala de aula era um lugar sagrado, no qual os alunos bem sabiam que estavam ali para aprimorar e direcionar os seus conhecimentos.
Aí eu me pergunto: será possivel pensar dessa forma hoje em dia quanto a educaçao estadual?
-IMPOSSIVEL! (todos diriamos)
Mas a astucia e o jogo de cintura de um professor nao deve jamais se reduzir às inumeras tentativas frustradas de silenciar a turma. Primeiro porque é preciso buscar a veracidade daquilo que se ensina, e segundo porque os alunos nao estao ali para serem silenciados, mas para saberem caminhar com suas proprias pernas.
Donde, toda vez que vejo um professor se esguelando para tentar conter uma sala de alunos, tenho em mente que esse professor nao esta no seu devido lugar no mundo. É um ser que ainda nao se encontrou, e como tal, jamais deveria ocupar tal cargo.
Ser professor exige paciência, sinceridade, benevolência, e acima de tudo humildade. Esses são prerequisitos basicos para qualquer um que se sujeite a essa profissão de risco.
O individuo que, irresponsavelmente, escolhe essa profissão apenas para tirar o seu sustento, em nada poderá contribuir com o verdadeiro significado da palavra Educação. E isso bem serve para aqueles que acreditam que um sujeito educado é aquele que é quieto e polido. Pois a raiz que dá forças às bases educacionais esta no encontro do individuo com ele mesmo, e principalmente com o Outro.
Se não houver espaço para a desordem, como haverá a ordem?
Se nao houver espaço para o banal, como haverá o sagrado?
Se nao houver espaço para o cotidiano, como buscar verdades eternas?
Sou a favor da educaçao livre, da liberdade de expressão do aluno, e da não condenação dos atos ilícitos. É desse Caos que muitas vezes surgem os Grandes homens.