terça-feira, 19 de outubro de 2010

Lágrimas Artificiais

Por entre nuvens longínquas,
O azul do céu interpõe-se anil
Quebra o silencio quase imbecil
Do meu olhar delirante,
Musica clássica revigorante
Estranhamente uma tarde me consome...
As roupas no varal;
Cheiros matriarcais.
A primavera dá seus primeiros passos
Rumo à minha incompreensão
Desse mundo gigante,
Desse Ser inconstante,
Que por hora chora
Sem compreender sentido algum
Sem trafegar em qualquer lugar
A lastimar pelo horizonte
A olhar pelos cantos vazios da alma
Sem achar, a estar, sem Ser.
A usar palavras repetidas
A cansar de ser humano
A reunir brechas para escapar
De mim mesma,
Para fugir no sonho fantástico
Pelo buraco do Sonoro devir,
Ate sentir essas pálpebras,
Palpar a polpa dos meus olhos
Sedentos de seiva,
A transbordar lágrimas artificiais.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Série: Lixeira Cósmica

Tenho guardado as dores.
Ficam seladas em cartas que ninguém lê,
Acho que nem foram escritas por ninguém.
A solidão, os desejos contidos, os sonhos não verbalizados,
As frustrações, a família, a desordem da vida.
Tenho guardado em caixinhas pequenas
Cada instante lastimável
E precisando de um Freud ou Jung
Ou melhor; uma Pandora,
E botar todas essas andanças pra fora
Todo o mal do universo
Em todos os versos.
O grande problema seria
Que mesmo colocando-as pra fora
Estariam mais dispersas do que nunca
Dominariam o mundo
E deixariam o mundo triste também
Ah como é danoso querer ser altruísta!
Assim como é egoísta aquele que sofre sozinho!

Lixeira Cósmica

Pra que tantos carnavais,
se no somar das tentativas, tudo que resta evapora?
Se no desaguar das águas há o ultimo suspiro?
Tantas conversas em noites de botequim?
Festim decimal, desse mal não sofro mais.
Mas da ambição que se encoraja em quimeras,
Relutâncias pra encontrar a gloria.
Aquela de Euripedes, de Homero, Ulisses e Aquiles.
Quantos são nossos inimigos vivos?
Quanto de nossa astúcia
irá demolir a parede do esquecimento?
Quem de nós trairá a bem-aventurança e surgirá impune
Nesses fios navais?
Que fará das flores rústicas, estatuas de plástico?
Que inventará perfumes de alfazema artificiais?
Dança teu baixo ventre num ritual,
Pede à divindade que lhe sorri
Ao menos um sonífero
Que nos iluda mais...
A tempo de constatar e sentir mais medo
Pois os carnavais já não são mais como antigamente...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Lixeira Cósmica, ou da Arte de Envelhcer

Há um período estranho entre nós. Começamos a não nos entender mais. As palavras ficam vazias e todos os esforços gastos são nulos, nada se completa. Desorientados barcos a deriva sem direção.
Um plano mal traçado, uma divindade que brinca as nossas custas. Chego a pensar que tudo que existe, apenas existe ao contrario, que sensação absurda! Eis o mal e sua face eloqüente. Convenceu-me que o melhor mesmo é dormir, é dar as costas, é descuidar das coisas mais necessárias.
Um momento de retração suspende todo o grito de socorro. Agora estou calada, suspensa no ar, em queda feito o anjo caído. A olhar pro céu buscando a origem dos erros, a querer reparar o que não tem tamanho.
Contentamento é o único remédio. Mas observar esse hemisfério sem chorar é quase inútil. É quase inútil chorar ou não chorar. É quase um estar, mas esse “quase” nos separa por multiversos…
Pudera saber do “sim” e do ‘não”. Pudera ao menos sonhar. Mas nem isso! Envelhecer é um assombro de questões infindáveis. A consciência feito raiz forte que não muda de posição estremece em cada interrogação.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Recipientes

Os passarinhos cantam à sombra de meu jardim,
Minha casa tem espaço pra muitos amigos,
Ouvidos pra quem chora,
Risos pra quem diverte,
Musica pra quem toca,
Silêncio pra além das horas.

O céu sobe lá fora,
Canta mistério e mito
Eu cá, sentimento evapora,
Salta a rã nesse vai-vem
Dia e noite, sol e chuva.
Sepulcro, lodo na rosa.

Meu corpo também bamboleia,
Brinca que é grande,
Sonha com um lindo peixe
Vislumbra a penumbra de Deus
Aconchega-se nos cabelos teus
Entrevê os inúmeros “eus”.

Casa, céu, corpo,
Recipientes vitais,
Recheados de sonhos e instantes
No meio, um vão:
Minha casa.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Ínfimo...

Gosto das frestas, das brechas, do espaço quase nulo entre os pensamentos, serão mesmo pensar?
O gosto pelos gráficos sem nortes, sem pontuar onde se quer chegar. O amanhecer, entardecer e anoitecer desvanecem criações humanas.
Rumo a escola pela manhã, pude contemplar a criação do inconsciente humano. As casas, o comércio, o trabalho, a natureza do lindo planeta feito planta que precisa de água pra germinar.
Trouxe-me um momento de pura abstração. Onde estará esse instante em minha mente? Onde se encontra a matéria sem forma?
O som da manhã, com seus ruídos naturais, e suas artificiais máquinas. O homem que ainda dorme pós meio-dia, o caminhar rumo à saciedade da vida, o Conatus de Espinosa. A vida só precisa da vida para respirar.
Caso haja caos, represento esse vulto num espaço sem ar, quase asmático pensar. Pouso as asas e caio de pára quedas na sala de aula. A realidade deixa-se estar nesse vão.

terça-feira, 6 de julho de 2010

A Natureza em nós...

Onde andará esse bicho? Rimos dele. Rimos de nós mesmos. Autossabotagem. Nossas normas nos levam a correção do intelecto? Levam à evoluçao do homem no mundo?
O que nos diferencia das demais espécies? Seriamos mais inteligentes? os mais evoluidos na cadeia alimentar? O que isso representa, senão a enfadonha e triste posiçao do homem diante da natureza?
Ontem, após praticar uma aula de Yoga, tive a plena sensação de que era um bichinho indefeso, sentia o cheiro da terra entrar pelos meus póros. Desde quando nos afastamos dessa pureza? Desse entendimento do que é simples?
Pergunto isso, tambem tendo em vista a realidade que vivi na aldeia indigena no Tocantins, pois, temos a errônea ideia de que, por serem povos que vivem afastados das cidades, são mais proximos da natureza. O que não é bem verdade, pois lá vi e vivi intensamente a mais pura "natureza humana", não há mais contato pleno com a natureza, pois não havia o questionamento da subsistência, da mente "evoluida" necessaria no planeta. Embora, o banho de agua doce poluida, a comida feita no fogo de verdade, as casas de terra, e mais ainda, o medo da escuridão da mata, e o deslumbramento com o nescer do sol e dos cantos sagrados, ainda os aproxime muito mais da natureza.
"Natureza humana" é a mesma "natureza do mundo"? Será uma "Evoluçao Natural" o rumo do ser humano diante das fatalidades catastróficas que ele mesmo criou?
Para quem acredita numa evoluçao consciente do ser humano, por favor, indique-me caminhos para solucionar esses questionamentos. Sei que a resposta será mera hipotese ou suposição, mas, ao menos, me trará alguma esperança ou não.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Do Sonho ao Banho:

Um sopro de esperança invade teu banho.
Faz ressurgir das aguas o frescor da volta, a umidade envolvente das gotas quentes.
Espero-te sair da chuva artificial, ao som da musica universal, do toque no peito, vejo-te desnudo, cabelos crespos, caracóis de euforia.
Fim de semana, tudo alcança pleno extase, tudo esta diante dos olhos de quem quer enxergar...
os livros na estante me contam historias distantes,
os papeis sob a mesa refletem pensamentos avulsos,
a reza na igreja, guardada no sonho,
Do sonho ao banho, um canto geme as gélidas paredes
que por hora soam com aconchego,
envolvemo-nos nus,
loção pós desconforto,
tecido de fibra desconhecida, misteriosa.
Poesia, musica, filosofia,
dão ar para até mesmo a ciência entrar.
eu que contava os passos,
agora estou saltitante nas esferas convictas oniricas.

domingo, 9 de maio de 2010

Às mães mais mas...

Como pode haver tantos deslizes,
contradições, movimentos noutro sentido?
Digamos que a fenda pela qual passamos
estivesse fechada diante da luz,
pronunciariamos primitivamente
a silaba "ma"?
De terna, eterna terra
fez surgir através do mistério
um ente,
e misteriosa é.
E guarda o segredo da vida
em teu ventre,
pelo qual deslizamos
a custa de dor e sofrimento.
Queres a renuncia,
dá-me o significado das coisas
em seguida retira-lhe e subtrai
és o incompreensivel,
chamo-lhe Amor?
Quando te vi com meus olhos,
não eras tão bela
como quando adormecia em teus braços,
mas tinha a chave de tudo.
Como pode o universo se resguardar
nas mãos de tão pobre criatura?
Seria a mim? Seria tu?
Minha MÃE.

domingo, 14 de março de 2010

Sobre os Sonhos

Basta um sonho. Apenas um sonho pra mudar o rumo do barco à deriva. Um sonho traz o alívio inconsciente, inconseqüente do desejo retido em meio às convenções sociais.
Um sonho trouxe-me a vida de volta. Aparente presente dos deuses.
Há de me levar a algum destino; teu sorriso em meio ao brilho do dia Apolíneo. Há de me fazer enxergar o que estava um tanto turvo, o que havia de infortúnio no meu ser andante à esmo. Há de me por pregos nos pés, porém fazendo-me esvoaçar alto, sonhando ser um dia como um "velhinho num balão".
De modo que já não sei mais te dizer "não". Essa era minha grande busca.
Mas, perseguia esse dilema com o coração em risco. Olhando as frestas do mundo por entre culturas ancestrais. Percebi que não és mais nem melhor que ninguém no mundo. E, no entanto, és único, essencialmente perfume em flor, frescor matinal, fluxo contínuo de desespero e entrega. Olhos do divino.

Por um fio...

Estopim

Ato, ritmo pra começo de conversa.
Fala manso, pede prosa.
Verga o plano, pulsa e cora.
Retém liquido, revigora.
Traz consigo a tal Pandora
Noite, injuria traição.
Traz na boca, incontido “não”.
Traz no peito o arranque,
Rugido contido de leão
Explode em gomos,
Espasmos rústicos
Sobras de gestos, incompreensão.
Mostra tua face
Que o que me devora a carne
É tecer feito Penélope,
O que não tem fim
O fio da vida: esse estopim

sexta-feira, 12 de março de 2010

Dialética do Absurdo

Charlatões invertidos em ásanas de yoga,
Lingüistas que não sabem escrever nem ler
Políticos que só pensam no próprio umbigo
Artistas abstratos que não sabem ver

Palavrear o confuso, nota sem hora
De estremecer
Eles esperneiam, imploram a ignorância!
Um barulho silencioso titubeia-me a alma
A sombra repousa e me olha pela fresta
A festa insignificante
Na qual...

...Políticos tomam champagne com dinheiro do povo,
Professores não compreendem o humano,
O lúdico se torna o profano
O universo inevitavelmente se veste desse infame pano.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Meu Ser Indio

Isso é pra te dar um nó.
Do não fiz mansidão,
Mansão aconchegante a beira mar
Quis usurpar-te, consumir-te feito gôndola de mercado.
Quis pontuar-te sem poupar o tempo
Quis ser equilibrista
Quando já estava caída no chão
Não tive medo, não tive duvidas.
Pé firme, a lavrar terra podre.
A ponderar coisas desnecessárias
A pesar sobre o ininteligível
A querer, e querer sem compreender o porquê
Sem nem saber o que querer
Sem nem ao menos saber Ser

Navegar pelos mares relutantes do diabo
Olhar o espelho e não se ver
Enxergar na face uma criatura
Pendente entre céu e inferno
Horizonte daqui por diante
É testar no corpo aquilo que o transcende
Aquilo que o anima,
Pulsar o horror com lagrimas de cristais
Aconchegar-se em folhas secas
Suar feito bicho todo tédio e todo o lixo mental

Não pude conter-me,
Perdi-me.
Não pude dizer adeus, nem olá!
Vazio, solidão repleta de gente.
Não pude aconchegar-te em meus braços
Já era tarde e soava feio, estúpido.
Nesse mundo quem é senhor de si
Esta no meio da estrada
Ao alcance dos olhos esta a Aldeia Nova
A fome, a miséria do meu Ser...