domingo, 31 de maio de 2009

Intervenção:

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,porque a ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 28 de maio de 2009

TEXTOS DE 2008

"Sobre A Maçã"


No Estado de Natureza não penso em Adão e Eva vivendo num paraíso, onde tudo é posto a perder ao se experimentar o fruto proibido; a maçã.
Degusto uma laranja. A metafísica e a história repousam no meu Ser.
Como teria sido o primeiro indivíduo que experimentou uma laranja? Estava no alto da laranjeira a tenra fruta e seus suculentos e refrescantes gomos ao sol.
Passarinhos espertos, muito antes de existir a razão, já sabiam do gosto irresistível dos gomos.
Pelo método (que ainda não era método) dedutivo, alcançamos o topo das arvores e nos saciamos da deliciosa fruta.
Qual foi a sensação de êxtase, qual gosto reteve? Qual doce e acidez a autêntica laranja tinha antes de ser plantada a base de pesticidas?
A Laranja me traz questões religiosas, sagradas, científicas e evolutivas.
Uma Laranja me causou delírio.
Estou saciada.

TEXTOS DE 2008

Sobre o Nada e o Amor

Abrigo nesse isntante um palpitante não estar em mim. Descontrolo-me facilmente. Pulsam hormônios juvenis. Pulsam palavras hostis. Não sou quem diz.
O diabo se reveste de minhas palavras, de meu silêncio, repousa inteiro em minha gula.
Se observo impaciente a vida é porque caminho no plano da aparência sem nexo: minha fraqueza não permite a amplitude, a visão do todo. Muito embora eu sempre saiba que esse TODO sempre esteve lá. Pulsando muito além e aquém de meus pulsos caóticos.
Cada encaixe da coluna vertebral tem sua extensão e dor. Sinto o "não" surgir do estômago e vigorar até a garganta.
A doença do domingo. Meu avô Domingos morto. Seu fantasma presente em meu gene, e na minha eterna busca pelo Ser.
Hoje pensei em separar-me do mundo que criei para mim. Das emoções frágeis e temporais. Dos amores que são como ventos em dias de calor.
A necessidade permeia tudo. Brutal e impiedosa, meticulosamente amante da sorte e do acaso.
O costume costurado pelos retalhos dos segredos familiares bem guardados.
Somos a soma de necessidade ocasional e destino necessário. Contrários por essência: Animais Angelicais.
Sentimos fome de AMOR.

TEXTOS DE 2008

Sobre (DES)Educação:

Ser professor é estar apto para "deseducar".
A educaçao "caduca" as pessoas. Faz delas depósitos, tubos de ensaio, ratos de laboratórios, invólucros de pretensões alheias.
Não acredito na educação. Nos meios que se justificam pelos fins.
Se a finalidade é formar sujeitos aptos para conviverem com a sociedade, não deveríamos apertar tantas vezes o "botão que dá choques" em suas cabeças, no imenso esforço que fazemos para que o "aluno-rato" não siga o caminho da desordem.
Gritos deseperados, choro, conversas amigaveis: nada adianta!
Quanto tempo precisamos para compreender que o ser humano é um animal? E que o cientificismo arcaico e a razão são imposições severas demais para quem só quer comer, dormir e se reproduzir?
Ensinemos arte! Ensinemos as boas canções! Ensinemos não no sentido de inculcar em suas cabecinhas ocas conhecimentos fajutos, mas sim, através de uma troca.
Hoje mesmo, uma aluna evangélica, da qual nunca esperei nada ao longo do curso, me ensinou a passagem da Biblia sobre JÓ, paciência de Jó... Achei interessantíssimo!
O que me interessa de agora em diante é trocar figurinhas e causar espantos e desordem (no bom sentido da palavra). Eis o que me interessa na deseducação!

TEXTOS DE 2008


Para Drummond:


Leio Drummond.
Acho que nunca uma leitura me fez sentir tão completa.
Cada palavras meticulosamente encaixada ao momento.
Sua dor é minha dor. Eu a tranpus e chorei feito criança. Chorei de soluçar, de não aguentar tanta beleza, tantas palavras puras, naturais e verdadeiras.
Me senti pequena. E cheia de emoções nunca antes tocadas. Senti voar minha mente em ambiente com cheiro de casa nova, mas com móveis antigos de Itabira, dos quais lembro da infância.
Encontrei um mestre. O único que não me pede nada em troca. Que me provoca delírios desvairados.
Quero penetrar-lhe as vísceras. Devorar suas carnes. Me afogar nos versos. E cair lúcida no chão gelado que me veste.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Escola

Estou na escola. Frequentemente estou na escola. Não respiro mais meu ar. Porque estou na escola. O ar é dos outros, para os outros, não é meu. Não é criar, muito embora, todo professor tenha de tirar leite de pedras...
Fico olhando essas professoras que passaram a vida inteira nessa profissão. Não me animo nada com essa situação. Dificilmente se encontra alguem com bom senso, sem nenhuma sequela.
Ontem assisti ao programa Profissão Reporter na tv globo, cujo tema foi a situação da educação no Estado de São Paulo. E por incrivel que pareça, fiquei impressionada com toda aquela realidade educacional do nosso país. Mesmo convivendo com o problema diariamente, ele sempre me pareceu distante, nunca pareceu me pertencer. Estranha sensação...
Hoje, na aula de filosofia, uma aluna me questiona:
-professora, porque questionar "quem sou eu"?? Mas que perguntinha mais descabida?!?! (disse ela).
E eu tentei buscar as respostas de Platão, de Descartes e de todos os filósofos, escritores, jornalistas, padres, terapeutas que me vinham na memória. Mas o fato é que era exatamente essa pergunta que ecoava em minha mente ao pensar sobre essa minha profissão de professor.
Pra que afinal perguntar? Pra que afinal tirar leite de pedra? Pra que afinal querer mudar aquilo que é irremediável? Lutar contra si mesmo? Contra o sistema???

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Limpar a casa.
Doar o corpo a uma pratica tão simples quanto varrer e passar pano.
Algumas horas do dia e seu ambiente esta novo!
Você pratica exercícios,
E ainda consegue uma casa cheirosa!
Excepcional!
Diga-se de passagem, que há quem pense que a faxina é coisa de doméstica:
Eu acho que faxina é a atitude que deveríamos ter com a vida, com o mundo.
Organizar os pensamentos, como cada livro na estante.
Limpar os pensamentos desnecessários, que só nos fazem sofrer,
Passar um pano nos vitrôs do passado.
Sentir a maciez da cama limpa. Receptiva a novas descobertas e sonhos...
Mas que sensação maravilhosa!
E o mais interessante é pensar: “fui eu quem fez”!
Recompensador!
Pratique esse exercício de lucidez, calma, organização e bem estar!
Faça faxina na casa e na alma!

segunda-feira, 4 de maio de 2009


Da Comédia:


A vida é apenas um resumo de risos
Em resumo, não passa de uma busca pela felicidade.
Momentos bons, autênticos, de risos
Causados, às vezes, pelo acaso,
Às vezes pela tristeza,
Às vezes pela bobeira,
Ser bobo também é alegre!
Não o ignorante: mas o bobo.
Das festas, comida na mesa,
Risos ecoam na noite,
Vestimos máscaras de gargalhadas
Seguidas de algumas garfadas
À meia luz todo o pudor vai-se embora
Ficam apenas as incontidas risadas
Não é mais amor,
Não é mais galanteio,
É algo medonho, e que, no entanto
Mostra sua graça,
Mostra sua desgraça
Ao mostrarmos os dentes
E rirmos noite afora!
A bebida sobe a cabeça
Somos o encontro de futilidades
Mais do que necessárias!
A comédia tem seu valor
Maior e mais sublime do que a tragédia.