quarta-feira, 29 de abril de 2009

Cotidiano

Sempre a sua sensação
Distraio horas pra tentar esquecer
Chega nossa hora
Pernambuco a vista
Oferenda do meu dia ao trabalho
O que me acorda
Ancora-me a terra
Cabeça nas alturas
Oportunidades éticas
Praia deserta
Água de coco e chá
Postas de peixe a mesa
Toalhas no varal
Preguiça, continência descabida
Sou o que não esta no mapa astral
Governo de mim,
Sindicatos plurais manifestam
Quando não sabem ler
O absurdo da nossa animalidade
Apaguem as luzes!
Contemplem a nossa cegueira!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Frescor

Um frescor atravessa meu ser pela manha e ao entardecer. Sussurros, ventos, sombras misteriosas do canto espiritual de mim. Tudo tem um sentido quando se preza o ritual. Nosso encontro traz “deixas” no ar. E não deixa nada a desejar. Não há desejo, só vontade de ser e estar pleno.
Como somos carentes de atenção! Como caímos diante do outro estupefatos pela ausência de carinho. Olhem para ele! Olhem para mim! Olhem ao redor! Contemplem a fragrância dessa umidade, do ser fleumático e melancólico. Dêem-lhe reverencia! Toda vida tem sua excelência! Mesmo aquela que veio ao mundo pela fraqueza...
Sinto as palavras passadas ainda pulsarem dentro de mim como uma reverberação ainda sem nexo. Vai criando forma sem pedir licença, vai se transformando em pensamentos avulsos, que ordeno em minha alma, ate amar esse sentimento novo. Ate formular frases e palavras que dêem vida ao que já passou. Lembrar o passado é uma forma de se tornar bondoso.
É com olhos de amêndoas úmidas que vislumbro como num filme o intenso fim de semana. Como se num pressagio o tempo não mais existisse, volto ate o mercado em que o vinho estava à espreita. À noite, a criança, a menina moça. A ausência de luz e a imensidão desconhecida que se interpôs sobre nós.
Sobreveio a nevoa, a audácia, o galanteio, a chuva e o ultimo fôlego de ar. O dia seguinte e outro, seguido de outro ate surgir o ultimo grão de areia na ampulheta. Quis parar o tempo. Chorei descabida em meu corpo, sentindo o conforto da náusea imperar, feito um dilúvio que inundava todos os espaços mais recônditos de meu ser.
Saboreei o sabor da vida em uma semana. Toda ela poderia acabar no meio da estrada de volta ao cotidiano. Toda ela tinha sido preenchida por completo! Nada mais poderia acontecer que fosse maior e mais singelo do que o amor.

domingo, 19 de abril de 2009


Sobre Arvores e Platão


Ao observar atentamente a beleza inexplicavel das arvores sob a iluminaçao do sol ao se pôr, tive a sensaçao de que Platão estava certo...

A beleza disso tudo deve estar num outro plano. Não que não haja beleza no momento exato da contemplação. Mas senti que havia um plano maior e mais sublime, que fazia com que toda a natureza não passasse de mera cópia.

Um plano ininteligivel. Um plano que apenas as pessoas iluminadas puderam vislumbrar. Comecei a prestar atenção nos ruídos sutis da atmosfera. Barulhinhos de porta, rodas de bicicleta, estalar do matinho verde, sopro de vento... Tudo que é tao puro e simples, as cores do céu e a perfeiçao das formas das arvores, todas tao certinhas e belas!

Pensei na existencia da arvore ideal. Pensei no som perfeito, nas cores puras...

Vesti meu óculos de sol e segui viagem.
Lista de 7 Vontades:

1) Conhecer Deus
2) Conhecer a mim mesma
3) Encontrar o "Outro"
4) Encontrar Pai e Mãe
5) Reencontrar o Trabalho
6) Encontrar o Mestre
7) Encontrar o Sagrado

Faça você tambem sua lista de 7 vontades!

sábado, 18 de abril de 2009



Aforismos de Gurdjieff



  • (Ame o que você "não ama".)
  • Para o homem a mais alta realização é ser capaz de fazer.
  • Lembre-se de você mesmo, sempre e em toda parte.
  • Lembre-se de que você veio aqui, porque compreendeu a necessidade de lutar contra si mesmo. Agradeça, portanto, a quem lhe proporcione a ocasião para isso.
  • O melhor meio de ser feliz nessa vida é poder considerar sempre exteriormente - nunca interiormente.
  • O verdadeiro sinal de que um homem é bom, é ele amar seu pai e sua mãe.
  • Respeite todas as religiões.
  • Amo aquele que ama o trabalho.
  • Não julgue um homem pelo que contam dele.
  • Leve em conta o que as pessoas pensam de você - e não o que dizem.
  • Junte a compreensão do Oriente e o saber do ocidente - e, em seguida, busque.
  • Só aquele que puder zelar pelo bem dos outros merecerá seu próprio bem.
  • Só o sofrimento consciente tem sentido.
  • Se quiser aprender a amar, comece pelos animais; eles são mais sensíveis.
  • Ensinando aos outros, você mesmo aprenderá.
  • Lembre-se de que aqui o trabalho não é um fim em si mesmo. É apenas um meio.
  • Só pode ser justo quem sabe se pôr no lugar dos outros.
  • Se você não for dotado de espírito crítico, sua presença aqui é inútil.
  • Aquele que tiver se libertado da "doença do amanhã" terá uma chance de obter o que veio procurar aqui.
  • O repouso não depende da quantidade, mas da qualidade do sono.
  • Durma pouco, sem se queixar.
  • A energia gasta para um trabalho interior ativo se transforma imediatamente em nova reserva. A que é gasta para um trabalho passivo se perde para sempre.
  • Um dos melhores meios de despertar o desejo de trabalhar sobre si mesmo é tomar consciência de que a gente pode morrer de uma hora para outra. E isso, é preciso aprender a não esquecê-lo.
  • Fé consciente é liberdade. A fé emocional é escravidão. A fé mecânica é estupidez.
    A esperança inquebrantável é força. A esperança mesclada de dúvida é covardia. A esperança mesclada de temor é fraqueza.
  • Aqui não há russos, nem ingleses; nem judeus, nem cristãos.Há somente homens que perseguem a mesma meta: se tornarem capazes de ser.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

DEUS AQUATICO

Deus aquático!
Apareça a mim com suas mil cabeças
Suas mil faces,
Com suas teclas softs
Amacie-me a testa
Teste todos meus prazeres
Mas que seja sempre além mar
Masque meu corpo frágil
Que seja salutar constante
E imprima a força do néctar vida!
Tempos de crença sem crença alguma
Tua banalidade me consome
Deus aquático imprima em nossas vértebras
Cavidades que dão no alem
Dissipa tua seiva,
Sua fluidez universal
Seu cabimento em toda forma possível
Sua renuncia à estática
Seu movimento perene
Suas cavidades preenchidas de profundidade
Deus aquático liberte-nos desse mal estar
Que padecemos de burrice
Que a mentira é tanta
Que começamos a dar-lhe credito
Mas nosso credo esta vazio
Nossa alma reclama esse vasto mar
Que a esperança é a imediata
Contemplação do horizonte
E em nosso corpo cheio de ti
Que é elemento palpável
Mas também fluidez inesgotável
Fonte de vida!
Água e sal

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A Dança

A dança da vida nos impulsiona cambaleantes a estarmos sempre sóbrios, jovens e pulsantes mesmo que fora do compasso. Perco o passo e adoeço nesse mistério constante que é estar vivo. Entro novamente na roda que gira para um lado e para o outro. Na cidade que grita sua musica alucinante.
Finjo que esta tudo bem e sigo a artéria iluminada das avenidas. A musica é uma teia, a única e verdadeira que nos permeia nesse espaço sem lugar. Nesse estar em lugar nenhum, flutuando no nada palpável.
Ao menos as ondas são poéticas e sabem que tudo vem e vai. Sabe que para ser sábio nada precisa saber. Sabe que tudo que foi não volta e mesmo assim é único na imensidão.
Sinto a vida pulsante nas veias, nas notas de Jacques Loussier. Nas intrincadas historias de vida de constelações familiares. Nesse sofrimento budista que todos nós dançamos suavemente, outrora com mais intensidade. Quando a onda gigante te engole, a felicidade resplandece na dor de existir.
Então questiono o porquê dos parágrafos tão justapostos. O porquê dos porquês infinitesimais. Dos “sem mais nem menos”. Dos que estão ai sem perguntar coisa alguma. Dos que se encantam com uma bolinha de sabão. Dos que sofrem suas dores como um fiapo de carne incrustado no dente.
Deve haver uma harmonia nesse Cage. Deve haver intenção absoluta nesse estado de miséria e glória. Nos filmes iranianos de figuras misericordiosas. No árduo trabalho dos que tem fome. No sol que se esconde por entre as nuvens de outono.
Algo que torne isso tão puramente particular e majestosamente universal. A teia do amor revigorante. O não descartável. O eterno laranja transitório das nossas vicissitudes longitudinais.
O sol e a brecha do condomínio sem luz. Nossa dança é a lástima, é a ganância, é corromper-se com estímulos behavioristas. Deixo-me levar pela dissonância. Deixo a musica dos carros entrarem pela janela sem pedir permissão. Os aparelhos auditivos dos adolescentes poluírem o hemisfério com sua musica sem qualidade. Deixo os gritos dos hormônios infiltrarem meus ouvidos.
Bato os pés, balanço o corpo para um lado e para o outro. Me entrego totalmente a essa entoada. Rodopios, ponta de pés, pernas pro ar, tecidos voando no céu. A dança da vida me consome por inteiro, já não sou mais eu quem dança. E, no pano de fundo, o ser que observa, vendo e ouvindo a canção celestial, abandona a regência e participa junto a nós nesse fluir. Gozamos todos do mesmo SOM.
A Neve

A neve inexistente solidifica a solidão presente
Estagio da alma
Passagem de dor à luz
Passagem para estar consciente
A febre estremece os dentes
Apazigua o calmo,
Torna-nos seres despertos de si
E de sua desgraça
Existir é dor
A dor que nos perpassa
Os espíritos que nos corrompem na juventude
A água e a terra em casa
Entendimento do profundo
Perceber nossa fragilidade
Perceber o quão confusos
Precipitamos pelos olhos do medo
E a noite que passou levou mais uma náusea
Ao surgir o dia a dor é outra,
Trava os músculos,
Entopem narinas, cavidades do ser
Para expelir do corpo a branquidão do existir
O amarelo do sorriso
O vermelho da raiva,
Limpar a casa para mais uma devastação
Da natureza, da NASA.