sexta-feira, 10 de abril de 2009

A Dança

A dança da vida nos impulsiona cambaleantes a estarmos sempre sóbrios, jovens e pulsantes mesmo que fora do compasso. Perco o passo e adoeço nesse mistério constante que é estar vivo. Entro novamente na roda que gira para um lado e para o outro. Na cidade que grita sua musica alucinante.
Finjo que esta tudo bem e sigo a artéria iluminada das avenidas. A musica é uma teia, a única e verdadeira que nos permeia nesse espaço sem lugar. Nesse estar em lugar nenhum, flutuando no nada palpável.
Ao menos as ondas são poéticas e sabem que tudo vem e vai. Sabe que para ser sábio nada precisa saber. Sabe que tudo que foi não volta e mesmo assim é único na imensidão.
Sinto a vida pulsante nas veias, nas notas de Jacques Loussier. Nas intrincadas historias de vida de constelações familiares. Nesse sofrimento budista que todos nós dançamos suavemente, outrora com mais intensidade. Quando a onda gigante te engole, a felicidade resplandece na dor de existir.
Então questiono o porquê dos parágrafos tão justapostos. O porquê dos porquês infinitesimais. Dos “sem mais nem menos”. Dos que estão ai sem perguntar coisa alguma. Dos que se encantam com uma bolinha de sabão. Dos que sofrem suas dores como um fiapo de carne incrustado no dente.
Deve haver uma harmonia nesse Cage. Deve haver intenção absoluta nesse estado de miséria e glória. Nos filmes iranianos de figuras misericordiosas. No árduo trabalho dos que tem fome. No sol que se esconde por entre as nuvens de outono.
Algo que torne isso tão puramente particular e majestosamente universal. A teia do amor revigorante. O não descartável. O eterno laranja transitório das nossas vicissitudes longitudinais.
O sol e a brecha do condomínio sem luz. Nossa dança é a lástima, é a ganância, é corromper-se com estímulos behavioristas. Deixo-me levar pela dissonância. Deixo a musica dos carros entrarem pela janela sem pedir permissão. Os aparelhos auditivos dos adolescentes poluírem o hemisfério com sua musica sem qualidade. Deixo os gritos dos hormônios infiltrarem meus ouvidos.
Bato os pés, balanço o corpo para um lado e para o outro. Me entrego totalmente a essa entoada. Rodopios, ponta de pés, pernas pro ar, tecidos voando no céu. A dança da vida me consome por inteiro, já não sou mais eu quem dança. E, no pano de fundo, o ser que observa, vendo e ouvindo a canção celestial, abandona a regência e participa junto a nós nesse fluir. Gozamos todos do mesmo SOM.

Um comentário:

  1. Oi Ieda,
    adorei o blog!
    Devorei os textos!
    Meu blog é www.relemblala.blogspot.com
    Beijos
    Marina

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